20/02/2025
Na sessão da Câmara do dia 11 de fevereiro, os vereadores Eduardo Nascimento (PSB) e Hernane da Saúde (PP), se mostraram indignados com a falta de atendimento da Secretaria da Saúde, alegando que a Secretaria Adjunta Thamires Vieira, manda mais na Secretaria que o atual Secretário de Obras, Paulinho Lenha.
Várias manifestações de protesto foram feitas nas redes sociais. Thamires respondeu em uma das publicações “Sou funcionária efetiva - concursada há 12 anos, deste modo não existe nepotismo. Nenhum desses vereadores veio na Saúde ou protocolou questionamentos sobre médicos, medicamentos ou qualquer coisa que trouxesse melhorias para a comunidade. A única preocupação deles é que eles falaram em uma reunião sobre quem favorece a negação de direitos. Furar fila do SUS é crime."
O Secretário da Saúde Ailton Ferreira, por meio da assessoria de comunicação da Prefeitura se pronunciou. "O trabalho com a Thamires é extremamente harmônico com todos os colaboradores da secretaria e, desde que assumimos a pasta, eu como titular e ela como adjunta, ganhamos muito e em conjunto para melhorar a saúde no município e oferecer um atendimento humanizado e de qualidade a todos os cidadãos que dependem do poder público"
Na sessão do dia 18, várias mulheres do coletivo MulherAção, levaram faixas e cartazes, alegando as falas como Violência Política de Gênero na Câmara, que aliás, não tem uma representação feminina há 42 anos, recebendo o título de - Pior representatividade política feminina em todo o estado – conforme o Tribunal Superior Eleitoral.
“Nós mulheres, independentemente de partidos políticos, amigos políticos e interesses políticos, jamais vamos nos calar enquanto existir o machismo e o preconceito contra as mulheres na política, ou em outro qualquer lugar”, afirma a liderança Todynha que esteve na Câmara dia 18. “Você não me representa”, disse Rita Augusta, cofundadora do MulherAção e Conselheira da Mulher na cidade, enquanto falava Eduardo Nascimento, “Não é uma questão de gênero, é uma questão de capacidade”, afirmou o vereador que deixou a sessão ainda mais tensa. Hernane, que estava visivelmente abalado, também se pronunciou lendo uma carta em sua defesa. Veja no final da matéria os links dos pronunciamentos.
O Site da Granja enviou e-mail com perguntas para os gabinetes dos vereadores Hernane e Eduardo Nascimento, assim como para a presidência municipal dos partidos envolvidos. Recebemos do gabinete de Eduardo Nascimento:
"Sobre os questionamentos, entendo que todos foram esclarecidos na 3º Sessão Ordinária realizada no dia 18 de Fevereiro."
Como recebeu as falas e respostas dos vereadores na sessão do dia 11?
Fiquei mais chateada porque percebi que é uma questão pessoal dele comigo e com meu pai.
Questão pessoal ou política?
Eu acho que as duas coisas. Nem pessoal comigo, acho que é mais por conta do Paulinho. Talvez eles vejam o Paulinho como vereador e acreditem que uma indicação para eu estar aqui seja do Paulinho e não do Welington Formiga. Foi uma escolha do Welington Formiga e ninguém questionou ele.
Conte um pouco de sua trajetória
Sou formada em Administração e Gestão em Saúde Pública, e sou funcionária pública desde 2006. Prestei concurso pra auxiliar de aula, e exerci durante quatro anos. Antes tinha sido recepcionista do Pronto Socorro de Caucaia. Fui convidada para voltar para Saúde, trabalhei na recepção, em faturamento e assistente administrativo. Na época do Rogério, o Dr. Magno me chamou e continuei participando na parte burocrática.
E a Thamires mulher?
Eu tenho 37 anos. Casei aos 18 anos, teve dois filhos, Miguel e Ana. Fiquei viúva aos 22. Após 5 anos me casei novamente e tive a Rafaela, que tem 8 anos. Minha filha Ana, de 15 anos é autista com nível de suporte 1.
Sobre suas conquistas na saúde durante esses 12 anos?
Eu não sou técnica, não sou enfermeira, não sou médica, enfim, mas existe uma parte de gestão que é burocrática. Então, por exemplo, na gestão anterior, tinha indicadores do Previne Brasil, https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/previne-brasil, que traz recursos pro município. Nosso déficit era nota 3. Então, quanto menor a nota, menor o incentivo que vem pro município. Quando eu entrei, a nota era 3. Depois de 6 meses, a nota foi pra 8.
Os vereadores alegam que estão sem diálogo com a secretaria, que é mais fácil falar com o doutor Ailton do que com você.
O que você tem a falar sobre isso?
Eles nunca protocolaram nenhum pedido comigo, ficou um pouco controverso. Porque eles dizem que eu mando mais que o secretário e que só o secretário os atende. Por que eles me questionaram e não questionaram o Secretário sobre o sistema de saúde? Por mais que eu faça toda a parte burocrática, eu não sou ordenadora de despesas. Eu posso fazer um pedido de um medicamento, não posso solicitar uma compra. Quem solicita uma compra é o secretário. E a gente fez isso logo quando a gente entrou.
E como está a relação com o dr. Ailton?
Bem tranquilo. A gente não tem atritos, a gente não tem brigas. O pensamento é um pouquinho diferente. Por exemplo, a parte de tecnologia, sistema, tudo sou eu que faço, né? Porque ele já faz parte técnica e política, como atender os vereadores. Eu não sou ordenadora, não sou eu que assino, não sou eu que pago, não sou eu que solicito, faço a burocracia. Iria adorar poder comprar remédio, contratar médico, reformar posto..., mas tudo no poder público tem licitação e outras medidas que desativam o tempo.
Tem alguma coisa bem importante que você gostaria que as pessoas soubessem?
Eduardo Nascimento utilizou a palavra “capacidade” para se referir ao meu trabalho. Quem mensura essa capacidade? Sem te conhecer, sem saber da sua história, sem saber sua atuação. Quem tem que medir isso é quem te contrata, né? Ninguém disse se um secretário tem alguma especialização na área... Mas as mulheres questionam. Sempre precisamos provar que se é boa mãe, boa profissional, boa amiga, boa irmã, que é boa filha, o tempo inteiro. E assim, todas nós mulheres, quando dão um desafio pra gente, não importa se você sabe ou se você não sabe, o que você vai fazer? Vai atrás. Mesmo com um carro andando, a gente troca o pneu.
O que você acha que incomodou mais os vereadores?
Queriam favores. “Ah, marque um atendimento pra tal pessoa, manda para exame essa outra”... Foi isso que aconteceu. No período eleitoral abriu-se uma porta dentro da Secretaria de Saúde, e isso é uma queixa de vários servidores. Os vereadores vinham com vários critérios de agendamento. Era uma ordem e quem dava as ordens, não era eu. Então, a partir do momento que eu sei que está errado, eu não compartilho nada, então eu não vou fazer. A gente não vai permitir, por exemplo, vários vereadores indo nas unidades e xingando os funcionários, brigando, questionando o medicamento! Não é culpa da farmacêutica que está lá que não tem medicamento, entende? Não é culpa dela.
E sobre o pai Paulinho Lenha?
Eu tenho muito orgulho dele! Meus pais se separaram quando eu tinha 11 anos e foi meu pai que criou sozinho 3 filhas mulheres. A gente não tem contato com a nossa mãe. Acho que as pessoas pensam que o Paulinho venceu na vida, que tem as coisas dele, e que eu sou uma menina mimada, patricinha, privilegiada. Eu tenho muitos privilégios e um deles é ser filha do Paulinho, que é um cara super sensacional. Sou casada com um cara muito bacana, tenho meus filhos e também por estar onde estou por meus méritos.
Quer dar um recado para as mulheres?
Vou usar aquela frase clichê que o lugar de mulher é onde ela quiser. Se ela quiser ser dona de casa, ela vai ser dona de casa. Se ela quiser trabalhar fora, se ela quiser ser concursada como professora e trabalhar numa área de gestão, ela pode fazer isso. Então quem decide não são os homens, não são os vereadores, não é o nosso namorado, o nosso pai, nosso filho. Não é. Somos nós. Nós temos isso. Somos fênix.
Sessão do dia 11 na íntegra: Falas a partir de 3:17:33
Sessão do dia 18 na íntegra: Falas a a partir de 2:45:14
Vídeo Manifesto MulherAção