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Onda de calor aumenta consumo de energia

25/09/2023


Sim. E muito. A onda de calor que atingiu o hemisfério Norte no primeiro semestre – literalmente queimando regiões inteiras do Havaí à Grécia – chegou ao Brasil e já promete impactar o consumo de energia. 

 

De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), quatro capitais bateram o recorde de temperatura do ano nesse domingo (24/9): Rio de Janeiro (39,9ºC), Belo Horizonte (37,1ºC), São Paulo (36,5ºC) e Curitiba (33,1ºC).

 As temperaturas ficam elevadas até terça (26/9) no Sudeste e Centro-Oeste, com a possibilidade de novos recordes em nove capitais e máximas de até 43ºC.

 “Este cenário pode ser resultado dos primeiros reflexos do fenômeno El Niño em pleno inverno, aliados aos efeitos do aquecimento global”, explica o Inmet. Os cientistas citam como exemplo as cidades de Cuiabá (MT) e São Paulo (SP), que tiveram o inverno mais quente dos últimos 63 anos. 

 “Desta forma, é possível dizer que recordes e mudanças no padrão climático serão cada vez mais frequentes em diversas partes do país”, completa a nota.

 Como consequência, podemos esperar mais inundações, secas, florestas em chamas e pessoas adoecendo por conta do clima (até os computadores parecem ficar mais lentos neste calor).

Consumo de energia

Outro efeito será sobre o setor elétrico. Estimativas do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para a semana de 23 e 29 de setembro apontam para aumento de 5,8% (75.234 MWmed) na demanda de carga do Sistema Interligado Nacional (SIN), em comparação com o mesmo período do ano passado. MWmed é a Demanda média requerida de uma instalação ou conjunto de instalações durante um período de referência.

 Dois aquecimentos

Entre os motivos está a elevação das temperaturas médias registrada nas principais cidades brasileiras. A aceleração mais expressiva vem da região Norte, com 10,6% (7.707 MWmed), também relacionada à retomada de atividades econômicas da região.  Sudeste e Centro-Oeste devem registrar avanço de 6,1% (42.756 MWmed), seguidos pelo Nordeste, com 4,2% (12.350 MWmed), e pelo Sul, com 3,8% (12.421 MWmed). 

 “A previsão de crescimento da carga para setembro é a maior dos últimos meses, reflexo do calor mais intenso e também de uma economia mais aquecida”, afirma Luiz Carlos Ciocchi, diretor-geral do ONS. 

Vai faltar?

O operador garante que a oferta de energia está sob controle, com os níveis de Energia Armazenada (EAR) estimados para o final de setembro acima de 70% em três submercados. Além disso, o período tipicamente seco está próximo do fim, reduzindo o risco de desabastecimento.

Submercados de energia são as divisões do Sistema Interligado Nacional (SIN) que fazem a transmissão e a distribuição de energia elétrica do Brasil. Atualmente, existem quatro submercados de energia no Brasil  que são: Sudeste/Centro Oeste; Sul; Nordeste e Norte.

Mas ainda não dá para respirar com alívio. Embora as fontes renováveis respondam por 83,78% dos 195,6 GW de energia em operação no país, mais de 52% da geração é hidrelétrica e depende de chuvas para encher os reservatórios.

 Estamos prontos?

Estudo da Coalizão Energia Limpa, publicado em maio, mostra que o Brasil ainda não tem uma política concreta para enfrentar os impactos da mudança climática no sistema elétrico.  Segundo os pesquisadores, o planejamento energético não considera adequadamente as alterações no clima, e conta com um volume de chuvas representado pelo histórico de precipitação que pode não ocorrer. A consequência disso é que, em um eventual desabastecimento, o país terá que recorrer a térmicas fósseis como medida emergencial – mais caras e poluentes – repetindo a crise hídrica de 2021.

Algo semelhante está ocorrendo na China e Índia agora. A produção de energia hidrelétrica na Ásia caiu ao ritmo mais rápido em décadas, relata a Reuters, especialmente na China e na Índia, os maiores mercados da região. Entre clima instável e demanda elevada por eletricidade, os governos estão recorrendo a combustíveis fósseis – que vão emitir mais gases de efeito estufa e contribuir ainda mais para o aumento da temperatura do planeta. 

 A boa notícia para o Brasil, segundo os pesquisadores da Coalizão, é que existem caminhos para tornar o sistema elétrico brasileiro mais resiliente, inclusive, em função da própria mudança climática. 

 Segundo o estudo, os modelos climáticos também apontam para um incremento nos ventos e na radiação solar na região nordeste, posicionando a região como exportadora de energia renovável.

“O Brasil pode exercer um papel estratégico na geopolítica global, sendo pioneiro na transição energética viabilizada a partir da construção de um sistema hidro-solar-eólico. Isto permitiria a redução dos custos da energia elétrica e uma maior competitividade global dos produtos brasileiros”, diz o estudo. 


(Fontes diversas e da newsletter “Diálogos da Transição” da Petrobrás, editada por Nayara Machado)


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