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Banimento dos Celulares nas Escolas: A Visão de Terê Fogaça

02/10/2024


Estamos chegando no Dia da Criança e uma questão tem tomado as mídias recentemente: O uso do celular nas escolas.

O banimento do celular das escolas parece ser definitivo: O MEC (Ministério da Educação) discutirá se a proibição será só em salas de aula ou em toda a escola. A medida faz parte de um pacote de ações para reduzir o excesso de uso de telas por crianças e jovens e melhorar a atenção dos alunos em sala de aula.

O MEC prepara para outubro um projeto de lei que prevê o banimento dos aparelhos nas escolas, medida que deve valer para todas as escolas do país, públicas e particulares. O ministro Camilo Santana comentou que a posição da pasta da Educação é que o uso "tem sido um prejuízo" aos alunos.

"Baseado em estudos científicos, em experiência mostrando o prejuízo do uso desse equipamento livre para os alunos nas escolas, vamos discutir inclusive se a proibição será em sala de aula ou na própria escola. Claro que, sendo um projeto de lei, será discutido em Congresso Nacional", afirmou o ministro da Educação.

Segundo o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Vitor de Angelo, a medida não foi dialogada com os secretários de Educação de forma oficial. A proibição do uso dos aparelhos até para fins pedagógicos não é um consenso entre os gestores estaduais.

Enquanto isso, pela primeira vez o Datafolha registrou mais casos de ansiedade entre jovens do que adultos no Brasil. Para piorar, as escolas ainda enfrentam um déficit de psicólogos e dificuldades para atuar em comunidade, enquanto pais e gestores escolares acabam, muitas vezes, dificultando o diálogo sobre o tema.

Contrariando a velha ideia de que saúde mental é problema que se resolve em casa, o psicanalista Christian Dunker (@chrisdunker) endossa a visão de que a comunidade escolar é crucial para identificar e tratar desde cedo sintomas de transtornos como estresse, ansiedade e depressão. Por outro lado, também aponta tendências problemáticas como o excesso de medicalização e a superficialidade de alguns diagnósticos.


O Site da Granja conversou com Terezinha Fogaça de Almeida, a Terê, que trabalha com educação há mais de quarenta anos e está à frente da escola Ágora:

“Trabalho sempre por princípios. Se for outra coisa vira império do cliente e não funciona.”

Site da Granja (SG): Como você vê o uso de celular dentro da escola?

Terê (Te): “O objetivo da escola é ampliar o repertório, sair do que se vê e escuta normalmente, sair do “mais do mesmo”.  Quando as telas chegaram (computador), a Ágora foi contra e por isso perdeu alunos, bem como vários outros que nem entraram. As telas apareceram nas escolas por conta de um espelhamento proveniente dos Estados Unidos, diferente do modo europeu.”

Ela tem razão. Em rápida pesquisa, o Site da Granja constatou que nos Estados Unidos, só em 2023 a Flórida aprovou lei para exigir que escolas distritais imponham regras para barrar o uso de celulares nas aulas. Já na França, desde 2018, o uso é proibido para estudantes com menos de 15 anos. Pode ser usado por alunos com deficiência ou no aprendizado.

SG: E como fazer com a tecnologia digital?

Te: “A Tecnologia veio para ficar e ficará até o final da vida de forma irreversível. Os alunos aprenderão de qualquer forma, muito melhor até. Nossa opção continua pelo diferente. Portanto a proposta é sair fora das telas individuais. Já a tela compartilhada é utilizada na Ágora, em aulas de matemática, por exemplo, é um fantástico recurso audiovisual. Aliás a Ágora não é só contra a tela individual, é contra tudo o que for individual. Tudo lá é coletivo: lanche, material etc.; nas aulas de artes, por exemplo, o giz pastel francês é o mesmo  pra todos.”

E continua: “Escola é convivência, e por isso a tela individual não é bem-vinda. Quando o núcleo familiar era mais expandido, o coletivo era mais presente na vida das pessoas, o que permitia se conviver com mais facilidade com conceitos de diversidade: que tudo bem ser diferente, justamente pelo convívio coletivo.”

Terê chama isso de alfabetização social. 

“Assim, o curso de vida sobre diversidade já estava iniciado. Hoje, com os pequenos feudos, mais restritos, em menos tempo (recreios de 20 minutos), como ensinar diversidade? Com certeza não é no shopping center”, diz.

“A tela individual faz a pessoa procurar seu próximo, o mais parecido com ela mesma, o que acaba por sedimentar o individualismo, e assim formar as tão faladas bolhas, onde esse individualismo impera e a intolerância, o medo, o horror ao diferente fica mais presente.  Isso dificulta o bem-estar como conceito de comunidade, ele é destruído. O diferente vira uma coisa que deve ser afastada.”

Para ilustrar, o Site da Granja  lembra do slogan "Mais de você em você mesmo",  tema de um projeto de um grupo educacional.

“Pois é, o problema é que ele foi elevado a enésima potência!”, diz Terê.

Sobre a convivência

“Conviver é difícil: se afastar, reconciliar, encontrar novos amigos, um processo de vida inteira. Tem a dificuldade em se ‘contrariar’ o outro.”

Ela não procura demonizar a telinha individual, só diz que ela não substitui uma relação:  “Um grupo é a possibilidade de se articular diferenças. A Felicidade em “likes” não gera uma consistência."

Finalmente ela ainda lembra da origem da palavra "companhia",  do latim companis, usada para descrever o comportamento de pessoas que comiam pão juntas. Lembra ainda que “Comemorar” significa “lembrar junto”.

Tela coletiva sim, individual não.  Ela cita exemplo recente, de que na escola tem uma TV ligada para os alunos que chegam mais cedo, mostrando as olimpíadas. Hoje os alunos resolveram desenvolver sua própria olimpíada na escola.

“O problema não é o que está no mundo, mas como você traz, e essa é a tarefa do educador”, arremata.

Ela mesma se apresenta:

“Sou Terezinha Fogaça de Almeida, a Terê, trabalho com educação há mais de quarenta anos. Formada em Letras, nessa longa jornada passei por escolas com propostas bastante diferenciadas dos modelos tradicionais de instituição de ensino, como “Mutirão” e “Crescer”. Na “Crescer”, dividi a coordenação do curso de Ensino Fundamental com Madalena Freire.

Sou fundadora da “Escola Ágora”, que tem trinta e nove anos de vida.

Coordenei o Projeto “Sementes da Toca”, oficinas de Meio Ambiente, Música, Artes, entre outras áreas, oferecidas aos filhos de funcionários da Fazenda da Toca, no interior de São Paulo. Meu trabalho, em cada um desses espaços, visa, prioritariamente, a promoção do ser humano, ou seja, o movimento a favor de cada indivíduo em sua trajetória de vida.”


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