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Desmatamento decreta menos uma área verde na Granja Viana

22/08/2024


por Mauricio Orth

Uma área de cerca de 800 mil metros quadrados (algo como 80 campos de futebol), antes com boa cobertura de mata atlântica, no km 25,5 da Rodovia Raposo Tavares ao lado do Cotolengo é assunto nas conversas sobre a degradação do quadro ambiental na Granja Viana.

História

Inicialmente essa área era pertencente ao Pequeno Cotolengo, que a vendeu à Cyrela, gigante do setor imobiliário, para construção de condomínios de casas, em 2014. 

A Cyrela desistiu do projeto e vendeu a área para a empresa de logística Prologis, de origem norte-americana. A Prologis fornece soluções imobiliárias logísticas, ou seja, faz e comercializa galpões e centros de distribuição. 

Logo após as alterações do Plano Diretor e da lei de uso e ocupação de Solo de Cotia, a Prologis iniciou as obras de desmatamento e terraplanagem para construção inicial de180 mil metros quadrados de galpões para locação. 

Jack Suslik Pogorelsky, atual Presidente da SARI - Sociedade dos Amigos do Recanto Inpla - Carapicuíba, um residencial com 180 casas e vizinho de muro com o empreendimento, comentou recentemente em redes sociais:

“Todos os dias estamos convivendo com uma ambiente de guerra pelo barulho de mais de 50 caminhões e máquinas trabalhando e árvores sendo destruídas com motosserras e retroescavadeiras junto aos muros de moradias. Não temos a menor ideia de como e por quê o plano diretor foi alterado sem qualquer conversa com a sociedade. A Prologis, de forma autoritária e soberana, diz ter todas as licenças, estar fazendo tudo dentro da lei sem nunca terem nos apresentado algo. Hoje vivemos num ambiente de destruição que coloca inúmeras moradias em risco, pela limitação do rio diante das chuvas, já que o mesmo não recebe os cuidados que deveria ter do poder público e não temos autorização para fazer qualquer coisa.”

Como uma área dessas, considerada anteriormente no Plano Diretor uma AIA - Área de Interesse Ambiental, virou uma ZUM, Zona de Uso Misto?

Ela foi adensada com moradias? Não. Ganhou uma das tão esperadas vias de interligação entre bairros para que Cotia dependa menos da Raposo Tavares? Também não. Fotos do Google Maps de 2024 evidenciam a maciça presença da mata atlântica na área.

A mais recente versão do  Inventário Florestal da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA) também aponta vegetação nativa em vários estágios de recomposição na área. Segundo rápido levantamento hidrológico feito por ambientalistas, existem pelo menos 8 nascentes na área devastada.

A indignação com a decisão da prefeitura de alterar o zoneamento pontualmente desta área é  unânime. Para os moradores da região, não existe motivo lógico que justifique tal medida.

Apesar da grande extensão da área, a separação entre o Condomínio Parque Silvino e os dois galpões com obras já iniciadas é uma faixa de área verde de apenas 10 metros de largura. O empreendimento terá também como vizinhos os condomínios Jardim Mediterrâneo, Alphaville Granja Viana,  Granja 2, Recanto Inpla e São Paulo 2.

Reação contra a degradação

O rio que separa o Recanto Inpla do empreendimento separa também Cotia de Carapicuíba. O rio já está acusando as consequências deste desarranjo ambiental e por isso, a SARI  solicitou a visita de um fiscal junto à prefeitura de Carapicuíba para comprovar. 

O Fiscal Jorge Uilson Felix do Nascimento emitiu em 09/08 o seguinte ofício:

"... constatei que está sendo feito a implantação de um empreendimento no município de Cotia pela Prologis Brasil, mas na divisa com Recanto Inpla. (...) ocorre que, com a implantação, os imóveis localizados na rua Estados Unidos poderão sofrer inundações e desmoronamento do muro pelo fato do córrego que faz divisa estar assoreado e com o aumento de volume de água, escoará para os imóveis citados. Sendo desta forma necessário verificar o projeto e alvará do empreendimento por parte da Prefeitura de Cotia.”

Assim, a SARI entrou com processo no Ministério Público de Carapicuíba e marcou reunião que seria esta terça (20/08). Ela foi cancelada, pois o MP de Carapicuíba entendeu que como o empreendimento está em Cotia, quem deve ser acionado é o MP de Cotia. No mesmo dia, Jack Pogorelsky  (pres. da SARI) já acionou o MP de Cotia. 

A Prologis se manifestou: “Agradecemos o contato, porém informamos que para o início das obras do Prologis São Paulo 26 foram feitos diversos relatórios, com avaliação de impactos, inclusive de impacto de vizinhança, que foram aprovados pelos órgãos competentes nas esferas municipal e estadual.”

Será que o MP de Cotia acatará a denúncia?


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