28/03/2025
A série Adolescência apresenta a narrativa de Jamie, um adolescente de 13 anos que comete homicídio contra uma colega da mesma idade e escola. O enredo explora os impactos desse evento sobre sua família, investigadores, colegas e a comunidade escolar. A produção aborda questões sensíveis, como misoginia (aversão e desprezo às mulheres), bullying e cyberbullying, a influência do universo digital, violência, rejeição e o impacto da influência social na juventude.
A adolescência é um período crucial do desenvolvimento humano, caracterizado por mudanças físicas, emocionais e neurológicas aceleradas. O cérebro ainda está em formação, e a maturação completa do córtex pré-frontal — região responsável pelo controle inibitório, planejamento e tomada de decisões — ocorre apenas por volta dos 25 anos. Enquanto isso, o sistema límbico, associado às emoções, já está mais desenvolvido, tornando as reações emocionais mais intensas. Além disso, o sistema dopaminérgico, ligado à sensação de recompensa, encontra-se altamente ativo, aumentando a impulsividade e a busca por novas experiências. Essa combinação torna os adolescentes mais vulneráveis a decisões impulsivas, comportamentos de risco e dificuldades na regulação emocional.
Além dos aspectos fisiológicos, a necessidade de pertencimento é um fator essencial na adolescência. Jovens buscam acolhimento e identificação em grupos de pares, o que pode ser um fator de proteção ou de risco, dependendo das influências a que estão expostos. Nesse contexto, a orientação e as conexões estabelecidas previamente pelos pais desempenham um papel fundamental. Embora não os tornem imunes a influências externas, fornecem um repertório de valores e limites que servem como referência para suas escolhas.
Permitir que o universo digital se torne um espaço exclusivo dos adolescentes pode ser extremamente perigoso. A ausência de monitoramento por parte dos pais, da escola e de especialistas os deixa vulneráveis não apenas à tecnologia em si, mas também a conteúdos prejudiciais, estereótipos, ideologias nocivas e algoritmos que, a princípio, oferecem sensação de poder e pertencimento, mas que podem ser destrutivos, tanto psicológica quanto fisicamente.
Que esta série sirva como um alerta para uma realidade frequentemente ignorada por estar oculta atrás de telas e ícones digitais. É fundamental lançar luz sobre esse tema, promovendo debates, conscientização e intervenções eficazes. Antigamente, a principal preocupação dos pais era quando os filhos saíam sozinhos; hoje, os riscos estão dentro de seus próprios quartos, muitas vezes sem que ninguém perceba.
O equilíbrio entre liberdade e privacidade deve ser mediado pela responsabilidade e segurança. Os pais devem supervisionar e monitorar o uso das tecnologias por seus filhos, além de estarem atentos a sinais de sofrimento emocional e às problemáticas contemporâneas. Caso necessário, buscar ajuda especializada é essencial. Da mesma forma, as escolas devem se envolver ativamente nessa questão, seja por meio da identificação de comportamentos preocupantes, seja promovendo conscientização entre alunos e responsáveis.
Pais e cuidadores, fiquem atentos aos sinais de sofrimento em seus adolescentes, como mudanças bruscas de comportamento, ansiedade, medo, tristeza, apatia, depressão, baixa autoestima, isolamento prolongado, irritabilidade, explosões emocionais, alterações no sono e mudanças no apetite. A prevenção e o diálogo são as principais ferramentas para protegê-los nesse cenário de desafios e vulnerabilidades.
"Os adolescentes
precisam de liberdade para escolher, mas não tanta liberdade que no final das
contas não saibam escolher”.
Erik Erikson
(Psicólogo e
pesquisador do desenvolvimento humano)