14/01/2025
O começo de um novo ano costuma vir carregado de expectativas. É como cruzar um portal que nos traz a chance de deixar para trás tudo o que foi difícil e abraçar transformações e recomeços. Assim é que acabamos vivendo essa transição com listas de resoluções entusiasmadas, como perder peso, mudar de emprego, economizar mais, cuidar da saúde... realizar o que ainda não foi realizado, superar o que há tempos desejamos superar.
Mas o que a mudança no calendário realmente nos oferece de novo para dar passos que ainda não demos? Como evitar que intenções grandiosas desmoronem antes mesmo do carnaval?
Este texto é um convite à reflexão: como transformar os impulsos vigorosos desse período em mudanças reais, sem que nossas resoluções se tornem fonte de ansiedade e frustração?
Um dos maiores equívocos é acreditar que podemos transformar nossas vidas de uma só vez. As festas, os rituais e as pausas desse período certamente nos enchem de vigor e esperança, mas, se mal conduzidos, podem levar ao esgotamento e muita frustração. Não podemos nos deixar seduzir por fantasias, mas encarar que grandes mudanças raramente acontecem em saltos, e sim que demandam persistência e pequenos passos graduais.
Por exemplo, se sua meta é mudar de carreira, é improvável que isso aconteça de forma abrupta. Qualquer passo precipitado pode ser inclusive muito desastroso. O mesmo vale para adotar uma rotina de exercícios: não se corre uma maratona do dia para a noite. O corpo, assim como os hábitos, precisa de tempo para se ajustar.
A única exceção a essa regra são os vícios, que muitas vezes demandam abordagens diretas e imediatas, com apoio adequado. Fora isso, o progresso gradual é o caminho mais seguro e viável, permitindo celebrar pequenas vitórias que nos motivam a seguir em frente, o que, por sua vez, aumenta a motivação e reduz a sobrecarga e a sensação de fracasso.
Além disso, a sustentabilidade de nossas metas é fundamental. Resoluções que desconsideram os desafios do dia a dia ou exigem esforço excessivo têm poucas chances de se manter. Metas realistas, que se integram ao ritmo da vida, não só tornam as mudanças possíveis, como também nos ensinam a valorizar e desfrutar o processo, e não apenas o resultado.
Então, o que pode ajudar a transformar as entusiásticas decisões do início do ano em realidade? Vamos pensar?
1. Senso de realidade
Uma resolução não é apenas um desejo anotado, é um compromisso com um processo de mudança. Sendo assim, é preciso que seja tomado com consciência, o que significa assumir de forma realista os passos possíveis de serem dados a cada momento.
2. Clareza
Dar contornos claros a esses passos é uma medida que deve vir associada. Decisões vagas produzem resultados incertos. Substituir metas genéricas como “quero ser mais saudável” por algo específico como “vou caminhar 30 minutos, três vezes por semana” transformará o desejo em uma ação concreta, desde que ela seja de fato realizável.
2. Pequenos passos
Metas grandiosas podem intimidar e levar à desistência precoce. Dividir objetivos maiores em ações práticas e alcançáveis é a melhor opção. Pequenos avanços criam sensação de progresso e mantêm a motivação.
3. Sustentabilidade
Integrar mudanças ao ritmo natural da vida, de forma que se tornem parte da rotina, evita esforços intensos que se desmancham rapidamente por não encontrar as outras condições necessárias para sua sustentação.
Por fim, é essencial lembrar que o caminho não é linear e sempre ascendente. Permitir ajustes ao longo do processo e viver retrocessos e momentos de fracasso devem ser considerados como parte dessa jornada. Se nos preparamos para isso, agiremos com gentileza e respeito por nós mesmas(os), desfrutando o tempo e apreciando nossa transformação gradual.
Então, ao invés de uma tortura, nossas mudanças serão um ato de amor. Resoluções que nascem desse lugar têm o poder de se tornar mudanças reais e duradouras.
Feliz novo ano para todas(os) nós!
Imagem: Sebastian Voortman