24/01/2018
Quando somos jovens tudo parece fazer sentido: o sucesso, as paixões, o sexo, um corpo belo e forte, os esportes, as artes, os ideais filosóficos e políticos etc. Assim, seguimos pelo mundo, guiados por certezas que nos fazem olhar os mais velhos com sérias críticas e um certo desprezo. Nesse período, acreditamos piamente que mudaremos o mundo, que somos mais inteligentes e capazes e que, certamente, não repetiremos os mesmos erros.
Com o passar do tempo, entretanto, um belo dia, se formos honestos e sinceros, olharemos nosso rosto no espelho e veremos que continuamos repetindo a mesma trilha de nossos pais e avós em muitos aspectos de nossa vida: relacionamentos, filhos, casa, dinheiro e negócios, férias, viagens, problemas de saúde etc. Percebemos que nossos amigos de juventude engordaram e que estão bebendo demais, cheios de tiques e manias.
A maioria de nós passará incólume por essa crise, pois, como a ciência e a tecnologia deram um salto quântico, ainda teremos a ilusão de que somos, de fato, diferentes de nossos antepassados. E como o mundo gira de forma cada vez mais rápida e ruidosa, continuaremos correndo sem olhar para trás, confiando em uma hipotética felicidade futura. Eventuais dúvidas e questionamentos – como, por exemplo, quando morre alguém próximo - passarão como o vento por nossa mente, sem deixar sequer sementes de uma nova compreensão.
Mesmo assim, várias pessoas continuarão incomodadas com essa situação e começarão a procurar saídas, respostas consistentes no meio desse turbilhão de riscos e incertezas. Talvez encontrem novos ideais em religiões e terapias que trazem um consolo, uma esperança, um objetivo maior.
Algumas pessoas, entretanto, continuarão com essa sede que nada sacia, essa dor no peito que nenhum remédio cura, esse corpo assustado e infeliz que nem mesmo a maior malhação ou o melhor calmante relaxam.
O chamado agora é outro, comovente e profundo, que clama por um caminho interior mais exigente - que vai além da vida comum - e um investimento muito maior. Neste caminho, a recompensa é tão grande, a transformação é tão milagrosa que vale a pena tentar, que vale a pena percorrer sem descanso, sem esmorecer, degrau por degrau, pois só ele pode nos conduzir com segurança e nos trazer a paz verdadeira e a satisfação plena e duradoura que nada pode abalar ou destruir.
Carmem Carvalho e Marian Bleier
GGGranja - Grupo Gurdjieff da Granja