19/08/2019
Mais uma reflexão da Série “Contos do Despertar”
A Alma estava se deliciando em seu banho diário nas cachoeiras de luz do céu astral, quando seu ouvido interno captou o chamado do Administrador de renascimentos. Uma sensação de desconforto fez seu corpo etéreo estremecer. Voltar para a terra, renascer em um corpo humano? Depois de milhares de vezes...
Voou rapidamente para atender o chamado, pois não havia como fugir, com todo o seu ser clamando por mais tempo na felicidade e proteção do mundo celeste.
— Sua hora chegou, disse o Administrador, com seu olhar de pura bondade e gentileza. Precisamos enviá-la novamente ao plano humano para mais uma temporada de aprendizado e transformação. E desta vez, você também terá uma missão divina a cumprir.
— Senhor, eu já passei por tudo que um ser humano pode viver na terra. Quantas vezes terei de renascer como criança à mercê de tudo e me tornar adulta esquecida de minha origem divina? Quantas vezes terei de sofrer por apegos e perdas, correndo atrás dos prazeres e fugindo das dores?
O Administrador ficou em silêncio, dando tempo para que a Alma se recuperasse do choque. Depois, continuou:
— Você se purificou muito ao longo do tempo e construiu, pouco a pouco, um corpo luminoso, mas ainda não se libertou por completo. Agora precisa retornar e cumprir seu destino divino na terra. Há um mundo de ignorância e sofrimento lá embaixo precisando desesperadamente de ajuda.
Com um simples sopro, ele fez a cortina do mundo astral se abrir e a Alma pôde ver por alguns instantes a condição humana na terra.
Um profundo sentimento de compaixão fez seu coração estremecer de amor.
— Percebo agora meu egoísmo. Enquanto houver um ser desvalido no mundo é preciso descer, e descer, e descer, construindo escadas e pontes, iluminando a escuridão.
Com um último gesto de desapego e entrega, ela se preparou para a descida como um viajante que conhece o Caminho, a Memória do Ser, um Guia pleno de inteligência e poder.
Carmem Carvalho e Marian Bleier