24/11/2021
Enquanto esperava no hall de entrada do Grande Hotel, o jornalista recordou a primeira vez que assistira a um filme com a famosa atriz que ele iria entrevistar dentro de meia hora. Tinha 18 anos naquela época, e na escuridão do cinema lotado, percebeu seu corpo trêmulo de excitação e desejo. Aquela mulher na tela, desde então, seria a musa de todos os seus sonhos eróticos.
Vinte e dois anos se passaram e ele vira todos os seus filmes dezenas de vezes. Aos 42 anos ela continuava linda e exuberante. Quando soube da primeira visita dela ao Brasil, imediatamente se ofereceu para o trabalho. Jamais perderia a oportunidade de ver de perto, em carne e osso, aquela mulher perfeita: livre e sensual, divertida e provocante, sempre misteriosa mesmo nos momentos de maior entrega.
Tomou um banho demorado e colocou sua melhor roupa, aquela que o deixava mais jovem.
Na hora marcada, uma secretária o recebeu e pediu que esperasse em uma poltrona de onde podia ver o mar. Era um lindo dia! Sentiu novamente o corpo vibrar como as cordas esticadas de um violino.
Depois de alguns minutos, a mulher de seus sonhos entrou. Enquanto gaguejava um cumprimento, seu olhar atento captou uma realidade para a qual não estava preparado.
A atriz de andar ondulante caminhara em sua direção com a firmeza de um sargento de polícia, seu rosto parecia triste e cansado, o sorriso distraído, e seu corpo cheirava a álcool e cigarro. Para culminar, o pedaço de um sutiã puído aparecia no decote do vestido.
Ela não demonstrou o menor interesse por ele ou pela entrevista, era tudo tão banal, automático, falso. Depois de uma hora, quando a conversa terminou, despediu-se com um gesto rápido e desapareceu no interior da suíte.
No hall do hotel, o jornalista ligou para a redação e pediu o resto do dia de folga. Sentia-se como um sonâmbulo despertado bruscamente em um lugar desconhecido.
Depois, caminhando lentamente pelas ruas, sob a luz e o calor do sol, começou a rir como um doido de suas ilusões sobre o feminino, das fantasias que marcaram seu caminho como homem. Parecia um bêbado aos olhos dos transeuntes.
Lembrou-se, então, da suave beleza de sua esposa, que o esperava todas as noites perfumada, alegre e amorosa, e pensou: “Sou um verdadeiro idiota, pois nunca valorizei o presente que o destino me deu”.
Naquela noite ele a levou para jantar no restaurante mais badalado da cidade e depois foram dançar numa gafieira de rosto colado, como nos velhos tempos de namoro.
Naquela noite eles se amaram como se fosse a primeira e última vez na vida.
Carmem Carvalho e Marian Bleier