23/04/2014
Pois é! O livro está sobre a mesa e ela, a mesa, onde está? Lendo o livro “Como Saber quem você é” do Dalai Lama, aprendo que a mesa está nas suas partes (pés, tampo...) na sua causa (construída para isso) e na mente! Essa que diz que aquele conjunto de partes é uma mesa. Ou seja, a teoria budista, que Dalai Lama apresenta no livro, diz que não existe uma mesa por si só, ela existe na dependência desses três elementos: partes, causa e mente! Assim é conosco também. Onde estou? No meu estômago? Na minha história? Na minha mente? Atrás dos meus olhos?
Ele conta que quando aprendeu isso ficou tão impactado que começou a olhar assustado para todo mundo à sua volta como não existentes. Claro que existem, ele diz, mas não como percebemos. Aprendo que foi isso que Buda entendeu quando se iluminou.
Segundo a teoria, quando percebemos que as pessoas não existem por si mesmo não tem como ter por elas emoções que chamam de aflitivas como raiva, medo, etc, afinal as pessoas “não existem”... são puro movimento e vivem na contingência de suas causas e efeitos (carma) sofrendo assim a ilusão dessa existência e o sofrimento que decorre daí.
Deu para entender? Não muito, não é? Também estou penando para assimilar...
Lembro de uma vez, numa sessão de terapia, quando eu falava mal de uma pessoa e de repente disse: “O que estou dizendo? Quem é essa pessoa? Ele não existe! Onde ele está agora? Só aqui na minha mente. Se imagino que ele está lá na casa dele, de repente já não está. Eu o considero um idiota porque foi assim que senti que ele foi comigo, mas agora ele pode estar sendo um doce com alguém exatamente já. Eu? Ontem com certeza também fui idiota em algum momento... e já sou outra coisa agora. Nós não existimos!”
O terapeuta respondeu: “Sim, não existimos sob esta perspectiva, mas existimos na relação”. Não sabia nada ainda sob esta visão do budismo de causa e efeito e de existência dependente, mas a frase dele caiu como um raio sobre mim.
Sim, existimos na relação. Impactamos demais uns aos outros o tempo todo e agora vejo, estamos nesse processo de dependência. Por exemplo: estou aqui sentada, porque vim e coloquei meu lindo (!) bum bum sobre a cadeira, porque queria escrever nesse computador que foi criado lá não sei aonde, por várias mãos que trabalharam porque alguém combinou com eles, os donos das mãos, de os remunerarem, para que, com aquele dinheiro, eles pudessem pagar o aluguel onde vivem com os filhos que, por sua vez, colocam mochilas nos ombros, feitas por outros homens, para irem para a escola onde sentarão seus lindos (!) bum buns.... e por aí vai, ad aeternum, se não houver iluminação, que é quando saímos dessa existência cíclica de renascimentos e mortes.
Ontem também, `a la Dalai Lama, andei vendo tudo como partes, procurando tirar a fala da mente que dizia que aquele conjunto de latas, por exemplo, se chamava carro... e também reparando em como tudo era constituído de outras coisas que provinham de outras ações. Nossa! Estava numa rua movimentada e vinham pessoas de muitos lugares, tive a impressão de serem todos bonecos, ou seres de outro planeta. Ou seja, duvidei muito da realidade!
Não, não... não precisa trazer a camisa de força, vou ao banco hoje pagar as contas, buscar filhos na escola... mas irão também comigo (comigo quem?) esses meus olhos que estão muito curiosos para enxergar um pouco além. Acho que o Dalai Lama não desaprovaria!
Foto Ligia Vargas