Ouvi uma história contada por um rabino, mas não tenho certeza que seja da tradição judaica. Não lembro bem dos detalhes, mas o fato é que alguém estava visitando o inferno. Lá havia uma mesa repleta de comidas deliciosas e várias pessoas sentadas em volta dela muito insatisfeitas. Elas não podiam comer porque seus braços eram tortos de tal maneira que as mãos ficavam voltadas para fora e por isso não podiam levar a comida à boca.
Em seguida essa pessoa foi visitar o paraíso. Lá a cena era a mesma, mas ali as pessoas estavam alegres, comendo o banquete. Elas também tinham as mãos voltadas para fora, mas em vez de tentarem sem sucesso alimentarem a si próprias, elas estavam alimentando as pessoas ao lado e recebendo dos vizinhos a comida na boca.
Penso muito nisso em relação à massagem. É tão gostoso receber o calor de uma mão que tem a intenção de transmitir um toque que dissolva tensões, que dê carinho. Todos temos mãos para tocar, fazer cafuné, mas não aproveitamos...
Hoje fui receber uma massagem que um amigo me ofereceu. Quando deitei de bruços senti como se meu corpo não tivesse vida, tão abandonada eu tenho me deixado.
Imaginei que tinha morrido e meu corpo estava ali inerte (como um dia ficará!). Senti meus cabelos desmazelados. Aí ele começou a massagem. Foi me torcendo para lá, para cá, ampliando meus movimentos, amassando aqui e ali, retirando a tensão dos músculos. Depois deitei de costas e ele mexeu muito delicadamente no meu cabelo, olhos, sobrancelha. Sua delicadeza me fez sentir cuidada por uma mãe e eu me percebi um bebê. Reparei que o meu corpo antes inerte tinha se enchido devagarinho de vida novamente.
Aí ele me deixou sozinha e foi cuidar das suas coisas. Tinha uma música linda tocando e comecei a dançar aproveitando o espaço amplo, o chão de madeira. Quando girando virei de costas dei de cara com o Osho num pôster grande me olhando da parede.
Gosto de muitas coisas que o Osho diz,esse indiano que acabou virando guru de muitas pessoas, mas tenho também uma certa antipatia por ele. Seus livros que quase não li tem para mim um tom que diz: “Vocês não são livres...” e isso me faz me sentir inadequada.
Continuei dançando e ele me olhando. Vi naqueles olhos tudo o que queria ver: um certo deboche, desaprovação. Fui falando com esses olhos enquanto dançava, colocando minhas questões, imaginando que ele estava respondendo. De repente me vi sorrindo e ele respondendo ao sorriso! Aí me dei conta de que desde o início ele estava sorrindo na foto. Foi preciso ir abaixando a guarda para entrar naquela alegria. Fiz as pazes com ele.
Apesar dos giros, dos olhos do Osho, enquanto escrevo não consigo deixar de pensar em histórias muito tristes que ouvi esses dias sobre os massacres na África que faziam das crianças soldados.
Com essa realidade na consciência, fica bem tolo escrever sobre dançar com um pôster na parede, por isso, para me redimir, paro de voar agora para dizer aos que estão sofrendo que quero que um abraço quente e toda reparação que for possível chegue até vocês. Que a vida faça sua boa mágica e coloque vocês (nós!) em contato com o toque quente e macio do amor.