Graça e Coragem Um dia um livro me chamou a atenção: Na capa um homem e uma mulher, ambos carecas.
20/10/2010
.. Um dia um livro me chamou a atenção: Na capa um homem e uma mulher, ambos carecas. O autor é Ken Wilber e era ele na capa junto com Treya Killam Wilber.
Ele é considerado o maior filósofo da consciência depois de Freud, “possuidor de uma rara clareza de pensamento, uma mente aberta para ideias muito divergentes, e de uma incomum visão combinatória, como, por exemplo, de espiritualidade e psicoterapia”; escreveu muitos livros e neste, que se chama Graça e Coragem, ele conta sua história com ela, Treya, sua mulher.
Ao se conhecerem, em 1983, na casa de amigos, às margens da Baía de São Francisco, mal trocaram palavras, mas Ken colocou o braço na cintura dela: “fiquei meio sem jeito, pois eu mal o conhecia... senti algo indescritível. Um calor, uma espécie de fusão...”.
Ele também descreve esse momento: “Era como se Treya e eu estivéssemos juntos há muitas vidas... Lembro-me de pensar: são quatro horas da manhã e estou passando por alguma experiência mística na cozinha de um dos meus melhores amigos, simplesmente por tocar uma mulher que nunca vi antes”.
Apaixonadíssimos, casaram-se em quatro meses: Uma semana depois da cerimônia, ela, com 36 anos, descobriu que estava com câncer de mama.
“Senti como se o universo se transformasse numa fina folha de papel e, aí, alguém simplesmente rasgasse o papel ao meio bem diante dos meus olhos”, escreveu Ken.
Quando ela perguntou como ele se sentia em relação a ela estar doente, ele respondeu:
“Você não é uma mercadoria danificada, você é minha esposa, minha alma-gemea, a luz da minha vida”.
Ken conta no livro sobre os cinco anos que viveram juntos, até a morte dela. A voz de Tracy também está ali através de trechos do seu
Diário.
Lendo seus relatos podemos acompanhar um mergulho profundo e honesto que ela fez durante toda a trajetória da doença. Está lá a consciência que ela tem a respeito do seu
“escorpião da autocrítica”, da sua luta em transformar a ênfase no Fazer, mais masculina, que sempre orientou sua vida, numa atitude receptiva, feminina, com ênfase no Ser.
“Acomodar-me, cultivar o solo e observar o que crescerá nele”.
Nas palavras de Ken:
“A busca de Treya para encontrar significado na sua vida se intensificou com a ameaça da doença. Ela acreditava que não tinha até então encontrado a sua Missão, seu daemon: palavra grega que na mitologia clássica significa Deus Interior, espírito guia. Quando o daemon de alguém é respeitado e considerado, ele é realmente um espírito- guia. Quando, porém o daemon é ouvido, mas negligenciado, dizem que se transforma em um demônio ou espírito do mal – energia e talentos divinos degeneram em atividade autodestrutiva. Ao escrever, eu expressava meu próprio Eu Superior, não sentia a menor dúvida. Dois parágrafos escritos do meu primeiro livro, quando tinha 23 anos, e soube que voltara para casa, me encontrara, achara meu deus”.
Treya aos poucos também foi descobrindo seu daemon, sua missão, que incluiu criar o Cancer Support Community. Um lugar onde as pessoas com câncer podiam ser ouvidas.
“O que estou descobrindo com tudo isso é que não sou diferente, que meus problemas são arquetípicos e vem sendo trabalhados por outros seres humanos há séculos. E o sentimento que brota disso é um novo tipo de humildade, um novo tipo de aceitação das coisas como são, uma nova sensação de bem estar. E o que é melhor – um sentimento de ligação como se fizéssemos parte de um único ser que enfrenta esses problemas e cresce com o processo. Como não sou diferente, significa também que não estou sozinha”.
A doença foi se tornando cada vez mais grave, Ken se transformou num Cuidador de tempo integral, parou completamente de escrever e entre eles começou um processo de
“devastação emocional, psicológica e espiritual que o sofrimento estava nos causando. À medida que os meses passavam e a provação se intensificava, elementos de sombra de Treya emergiram e se avivaram e eu entrei numa depressão profunda”.
Vodca, cervejas, vinho, conhaque... Ken começou a beber todos os dias.
“Parece que um dia estávamos bem e no dia seguinte a vida rasgou-se nas costuras como uma roupa barata”.
“Nós dois ficamos cada vez mais deprimidos, cada vez mais separados, cada vez mais esmagados pelas circunstâncias e pelo nosso próprio lixo neurótico”.
“O mais simples e esmagador erro que cometi foi culpar Treya pelas minhas aflições. Ela reagiu demonstrando culpa ou raiva... rápida espiral descendente de culpa e acusações que a levou ao desespero e me levou à loja de material esportivo a procura de um revólver para me suicidar...”.
“Eu bati nela. Novamente. E novamente... Nós finalmente desmoronamos no sofá. Eu nunca batera numa mulher antes e nós dois sabíamos disso”.
“Recordando o incidente, Treya e eu achamos que foi um ponto de mutação crucial, não porque bater numa pessoa seja motivo de orgulho, mas simplesmente mostrou que estávamos realmente desesperados. Daquele ponto em diante as coisas começaram a melhorar dia a dia, lentamente... começamos a fazer terapia de casal, recuperamos o amor extraordinário que sentíamos um pelo outro, um amor que nunca morreu, mas que havia passado a maior parte de ano sob um sofrimento incessante”.
A partir dessa crise, Treya e Ken foram se recuperando aos poucos e compreendendo que
“A possível morte de Treya se transformou em um profundo mestre espiritual”.
O livro inteiro é recheado por informações relativas à espiritualidade e por ideias de Ken construídas a partir de um profundo conhecimento de todas as Tradições Místicas.
Treya e ele eram meditadores disciplinados:
“O laboratório é sua própria mente, a experiência é a meditação”.
Medo, raiva, muitas e muitas lágrimas e também diabetes, problemas de visão, radio e quimio terapia, cirurgias, tumores espalhados por vários órgãos, peregrinação por muitos tipos de tratamento e Treya se tornando cada vez mais consciente, amorosa e mais apaixonada pela simplicidade da vida.
Um dia ela resolveu morrer e não mais esperar pela morte. Treya já não conseguia subir as escadas e Ken a levou nos braços para sua cama e ele sentiu que o seu coração tinha se partido e se lembrou da
frase de Da Free John: “O verdadeiro amor machuca, o verdadeiro amor o torna vulnerável e aberto, o verdadeiro amor o leva muito além de si mesmo e, portanto, o verdadeiro amor o devasta”.
Pequenos “milagres” aconteceram envolvendo sua morte, o que levou Ken a acreditar que ela tinha se unido ao
“Espírito Luminoso”.
Contei aqui boa parte do que acontece no livro porque acredito que essa história mereça ser conhecida e poucas pessoas têm tempo e disposição para ler um livro tão denso, com 374 páginas, mas, para aqueles que se sentirem com vontade, eu digo: Vá em frente! É maravilhoso!
Ali têm informações preciosas sobre Espiritualidade abordada de uma maneira muito eficiente, muitas reflexões sobre a cruel perspectiva de que o paciente gera sua própria doença e também vale a pena conhecer outras passagens como o encontro de Ken com uma prostituta que tinha dois seios! Ou o episódio onde ele dança e chora abraçado a idosos alemães, entre outras... E, mais que tudo, é um privilégio poder acompanhar os pensamentos e sentimentos de duas pessoas tão especiais como esses dois...
beijos, Jany
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