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Planeta Eu

Funk e Roberto Olhei aquela roda de pessoas sentadas sem o menor interesse em mim e no que eu tinha vindo para fazer com elas, que era cantar e dançar

06/01/2016



Olhei aquela roda de pessoas sentadas sem o menor interesse em mim e no que eu tinha vindo para fazer com elas, que era cantar e dançar. Algumas das mulheres estavam chorando e apesar de eu ter sido apresentada, ninguém olhava para mim. Comecei a falar, explicando o que é a dança circular e que ninguém deveria se sentir coagido a participar, etc. Não senti nenhuma reação em relação às minhas palavras e ninguém estabeleceu contato visual amistoso, mas não era porque queriam deliberadamente me ignorar ou rejeitar. A questão é que eu estava falando grego ali. Aquelas vinte e oito pessoas não tinham disponibilidade interior para algo que não fosse o sofrimento delas. Sofriam por seus filhos que estavam privados de liberdade ali na Fundação Casa, antiga Febem.

Era uma comemoração de Natal apenas com os pais dos meninos internos. Izis, a assistente social que me convidou, trabalha com as famílias, vai à casa deles, procura entender o contexto de cada jovem que está ali. Foi uma frase dela, que repeti para aqueles pais que não queriam conversa comigo, que fez finalmente que eles me olhassem. Disse o que ela tinha me dito momentos antes:
“Quando esses meninos vêm para cá, eles estão vindo como infratores, é isso que todos pensam deles, mas no momento que entram aqui, ele são apenas meninos. E logo se vê o quanto são maravilhosos.”

Eu disse também que nós, seres humanos, não somos estados fixos, que mudamos continuamente. Que os filhos deles não eram só meninos que fizeram algo errado num dado momento e que tinha resultado naquela reclusão. Eram muito mais. Que nessa idade os meninos e meninas se transformam muito.

Quando falei que seus filhos eram maravilhosos percebi cada par de olhos se virando para mim. Eu tinha falado algo que valia a pena ouvir.

Dessa maneira, as pessoas se colocaram um pouco mais abertas. Toparam cantar e foi difícil encontrar um repertório comum. Alguém falou timidamente em funk. Odiei-me por não conhecer nenhum. Quando nos lembramos de Roberto Carlos, claro, o choro aumentou. Dançamos! Primeiro uma dança muito simples, infantil, do Chile que nos descontraiu e depois Walenki, uma dança russa: São duas rodas. Uma dentro, outra fora. A de fora, em certo momento, coroa a de dentro e assim vira uma roda só. Vamos ao centro e depois expandimos para trás, de novo ao centro... Dessa maneira pulsamos juntos e demos risadas, sentimos alegria, sensação boa de estar junto. Talvez por isso que uma moça disse para as outras mães que permaneciam sentadas: “venham dançar, eu estava com uma angústia aqui no peito e passou!”

Uma moça que não dançou chorava muito todo o tempo, cheguei perto contando que ela se parecia muito com uma amiga, que ambas tinham o mesmo olhar doce. Ela me olhou lá do fundo do desespero e me disse que tinha raiva porque o filho dela estava preso por causa de alguém que estava solto. Ocorreu-me dizer que o tempo passa rápido, que logo ele iria sair. De novo ela me olhou, dessa vez com um pouquinho de esperança no olhar. Ao lado dela uma mulher miúda também chorava muito.

Izis me explicou que quando cada jovem chega lá é feito um trabalho de conhecer aquela pessoa de modo profundo, e é elaborada para ele uma maneira de ajudá-lo a se conhecer e devolver potenciais. Cerca de 15% deles reincidem, segundo site da Fundação Casa. Uma mãe que estava lá contou que o filho, quando sair, quer estudar muito para passar no concurso público para trabalhar lá.

O que mais impressiona ali são as portas trancadas, a restrição da liberdade. Vi alguns meninos, vieram ajudar a arrumar a sala, prestativos, uniformizados. A Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA) é instituição vinculada à Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania e atende jovens de 12 a 21 anos.

Izis me explicou que o que ela procura com seu trabalho é conscientizar os meninos do que significa ter uma vida ligada ao crime, para que eles possam ter a chance de escolher.

O que sei é que todas as pessoas que tinham os filhos ali são visivelmente de uma mesma classe social. Por que são mais vulneráveis a ter problemas desse tipo? Respostas óbvias que podem ser resumidas numa única palavra: oportunidades! Que bom que fui lá, que bom que estou escrevendo aqui. Mais dia, menos dia, nós que temos medo de sermos vítimas da violência - que está grave aqui onde moramos - precisamos conhecer quem está do outro lado. Para dançarmos juntos, para colaborarmos de alguma maneira para essa situação mudar, para que meninos não provoquem sofrimento e fiquem detidos, para que mães não chorem, para que ninguém seja vítima de violência.

Antes de publicar essa crônica, escrevi perguntando para Izis por que ela considera os meninos maravilhosos. Eis aqui a resposta dela:

“Falo da essência de cada um deles e de cada um de nós, que carregamos e buscamos manter. A essência pura do amor, a certeza do elo com o divino. Quando tiramos dos meninos a carga da bagagem que carregam da vida, na maioria das vezes muito pesada, vemos que são apenas garotos. São sensíveis, alegres e gratos. Você não faz ideia de como recebem o nosso abraço de feliz ano novo. No contato afetivo, os olhinhos da maioria brilham como estrelinhas e se enchem de esperança por um ano melhor.”

 

Foto: Alberto Lefevre


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Jany

Escritora e Focalizadora de Dança Circular no UlaBiná.

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