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Planeta Eu

Crônica Fé e Liberdade Para que vim? Toda noite nos dissolvemos na escuridão dos nossos olhos fechados, ao dormir

15/01/2015



Para que vim?

Toda noite nos dissolvemos na escuridão dos nossos olhos fechados, ao dormir. “Fazemos isso sem receio, mesmo sabendo que tudo que conhecemos como “eu” desaparece. Depois de um breve período, imagens surgem e nosso sentido de identidade ressurge com elas” (1). Sonho é o nome que damos a essas imagens que nos contam histórias.

Dizem que há sonhos que são para o sonhador e há outros que são mensagens para todos. Esta noite tive um sonho que senti ser assim, para o coletivo. Nele, meu pai estava reclamando da minha mãe, que ela não era como ele queria que ela fosse. Eu lhe disse então que, na verdade, os casamentos aconteciam apenas para que surgissem seres que precisam desse veículo para nascer. Falei também que parasse de reclamar e aproveitasse a oportunidade de estar novamente vivo para descobrir qual era sua missão na Terra. Nesse momento, minha mãe apareceu trazendo pela mão três pequenos garotos para ficar com meu pai. Tanto ele como eu percebemos que era essa a missão dele: estar com aqueles meninos cheios de curiosidade no olhar. Talvez meus três irmãos?


De manhã estava pensando no sonho quando encontrei escrito em letras grandes no portão de uma escola municipal a seguinte poesia de Solano Trindade (2):

"Para que vim?

Eu vim para cuidar dos jardins, plantar coloridas flores. Regá-las ao sair do sol, fazer lindos buquês e ofertá-los aos deuses e às mulheres. Mas há ameaça de guerra e os jardins não sobreviverão ao fogo, então não cuidarei de jardins. Não levarei flores aos deuses, nem às mulheres. Pregarei a paz”

Daemon é uma palavra grega que na mitologia significa Deus Interior, espírito guia. Segundo o pensador Ken Wilber, no livro Graça e Coragem, “quando o daemon de alguém é respeitado e considerado, ele é realmente um espírito- guia. Quando, porém o daemon é ouvido, mas negligenciado, dizem que se transforma em um demônio ou espírito do mal – energia e talentos divinos degeneram em atividade autodestrutiva.” Ken Wilber fala também do encontro com sua missão: “Ao escrever, eu expressava meu próprio Eu Superior, não sentia a menor dúvida. Dois parágrafos escritos do meu primeiro livro, quando tinha 23 anos, e soube que voltara para casa, me encontrara, achara meu deus”.


Pois é, ser fiel ao seu Daemom, descobrir sua missão, nem sempre é tão fácil assim.

Penso naquelas pessoas que complicam a vida dos outros quando estão em cargos de poder, e também em quem vende armas, e naqueles que dão ordens numa guerra, ou numa ação policial, que resulta em morte. Que terríveis lugares elas escolhem estar.

Por outro lado há os Bodisatvas, seres movidos pela compaixão que, segundo o Budismo Maaiana, se dedicam a ajudar a humanidade.

Colher flores, pregar a paz, cuidar de crianças, prejudicar ou ajudar os outros. Tantas possíveis missões. Cada pessoa tendo uma vida para se entender com Daemon, seu espírito guia, e honrá-lo ou enfrentar sua fúria, talvez expressa em vícios, sofrimento, tormentos.

Aventura humana, breve, intensa, misteriosa, assim como os sonhos de cada noite. Bússola na mão, ouvir e compreender os próprios sussurros, encontrar o norte, o caminho para uma vida significativa. Belo projeto!


1. Trecho do livro "Os Yogas Tibetanos do sonho e do sono" de Tenzin Wangyal Rinpoche
2. Solano Trindade,(1908 – 1974) poeta, pintor, teatrólogo, cineasta, ator e folclorista que nasceu em Pernambuco e que teve grande importância no resgate da cultura negra. Ele morou no Embu das Artes, onde existe, em sua homenagem, o Teatro Popular Solano Trindade, dirigido por sua filha Raquel


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Jany

Escritora e Focalizadora de Dança Circular no UlaBiná.

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