05/10/2011
Preste atenção, vou te fazer uma pergunta. Quero que você responda dentro da sua cabecinha com aquela voz chamada pensamento. Se quiser depois me enviar a resposta, vou gostar.
O que eu quero saber é que crenças você tem sobre você. Pare de ler um pouco, pense e quando souber continue.
Eu, por exemplo, tenho forte a convicção de que não sou atraente e isso não é de agora aos cinquenta e tantinhos e sim desde nova quando era uma mocinha cheia de pretendentes.
Meu amigo acredita que o mundo é hostil e a atmosfera sobre sua cabeça é densa. Outro acredita que é preguiçoso, uma promessa que nunca se cumpre.
Uma amiga disse que se sente incompetente, uma fracassada que não termina o que começa.
Várias pessoas com quem conversei têm certeza que são burras. Outros me disseram que são maus filhos, más esposas e mães, péssimos maridos e pais.
Uns são ruins, alguns culpados de tudo, responsáveis pelas desgraças da família. Tem aquele que é o drogado ou alcoólatra que traz tantos problemas para quem gosta. E por aí vai...
Você tem uma ideia melhor sobre você? Ou também faz parte desse coro dos insatisfeitos consigo próprio?
Percebi que organizo minha vida e uso as pessoas para provar que minha tese sobre mim está correta. Por exemplo: se vejo uma mulher atraente passo mal, tenho inveja, entro num surto agora silencioso.
Em outros tempos já fiz cenas de ciúmes constrangedoras. O coitado do namorado tentava dizer que era eu o amor da vida dele. Eu desqualificava a informação, não servia para comprovar minha convicção e sempre tomei várias medidas para me tornar não atraente.
Seguindo pistas para dentro de mim me lembrei de que quando pequena, naquela época em que as informações que os adultos passam entram como verdades absolutas, ouvia do meu pai mil elogios às mulheres bonitas. Só elas eram dignas de existir. Minha mãe se acabava de ciúmes e com ela aprendi que mulheres atraentes são um perigo mortal.
Meu amigo que se acredita preguiçoso que deixa de fazer várias coisas para comprovar essa crença, tinha irmãos e
pais hiperativos. Quase posso ouvi-los apressando, atropelando, recriminando o calmo menininho que um dia ele
foi e de certa maneira ainda é.
Quantos pais passam repetidamente a mensagem que o filho é um mau menino que não deveria ter nascido? O que dizer das crianças que vão mal na escola? Que mensagem diária elas recebem sobre si próprias?
Famílias que brigam muito criam o tal ambiente denso que oprime ainda hoje meu amigo. Ele se tornou especialista
em arrumar inimigos que comprovam que o mundo é mesmo hostil.
Percebi no relato de um homem que ele tem estado tão atormentado com a ideia de que é um mau pai e por isso culpado que não sobra espaço, nem energia, para ele de fato olhar para o filho e perceber o que está acontecendo com o menino.
Se o ambiente ficar leve, se o incompetente arrumar um bom trabalho, se o alcoólatra deixar de beber, se o filho que está com problemas ficar bem, se o burro aprender um novo idioma, se o envergonhado ousar dançar, se eu for eleita Miss Granja (Sênior!) não poderemos mais nos atormentar! Nem usar os outros para provar nossas belas teses!
O que percebi em mim é que essas convicções ficam escondidas. São o filtro transparente que uso para recortar a realidade. Só me dava conta da existência desses conteúdos quando tinha reações desproporcionais e os olhos desobedientes se enchiam de água, o rosto ficava vermelho ou uma irritação forte vinha de algum lugar desconhecido. Sinal de que a artilharia interna estava tinindo!
Consciência e um olhar atento que percebe os jogos que faço para levar as pessoas e os fatos a comprovarem minhas teses é o que tem desmontado minhas bombas relógio. Juro, você não é burro, nem incompetente, feio ou culpado. Esses são estados fixos e na verdade tudo é relativo e muda o tempo todo, não é não? Você é só alguém que neste exato minuto está respirando e por isso vivo, apto a começar uma nova história com uma lente mais favorável na frente dos seus olhos.
E eu? Claro que aceitei o convite para posar para a capa da Playboy. Ou foi do Globo Rural?