28/05/2015
Pequenas velas nas mãos do público no Panamá. Uma arena e no centro dela uma fogueira e índios com paramentos lindíssimos. Dançavam e cantavam. De repente entraram homens de armaduras, a cavalo e com lanças com as quais destruíram a fogueira e dominaram os índios. Minha amiga, na plateia, chorava de soluçar. Ela contou que se identificou demais com os oprimidos e que, olhando para sua vida, percebeu que viveu também por muito tempo num sistema de dominação, principalmente porque não tinha noção de que poderia ser diferente. Com o tempo foi entrando em contato com pessoas com sensibilidade como a dela, e enxergando o quanto se acreditava inadequada por não usar armadura. Ouvindo ela me dizer essas coisas, enxerguei em seu rosto a etnia indígena que ela carrega nos traços, uma vez que teve um antepassado assim, que era obrigado a se esgueirar na família predominante de brancos ricos, quando se casou com sua bisavó.
Ficamos quietas e pensei nos homens de armadura, no quanto eles oprimiam partes de si, para poder matar aquele povo indefeso. Tive pena deles, pensei que por péssima que fosse a situação dos índios, ainda pior a deles. Que lugar para se escolher estar! Se é verdade que colhemos o que plantamos, pobre deles!
Se, de fato, a colheita atravessa vidas, quando ela vem pode parecer uma imensa injustiça. Nesse ponto, dá para se dizer que teriam os índios também plantado... que complexo!
Andei entrando muito em contato com o sofrimento esses tempos, como se também meu povo estivesse sendo atacado daquela forma, e para não perder minha alegria e vontade de viver tenho usado duas técnicas: uma de relaxamento profundo, que possibilita que o corpo se auto regule e que a mente pare de ficar dando voltinhas em torno dela mesmo. A outra é acreditar que aqui, este Planeta, é mesmo mais misterioso do que parece, como dizem certas tradições. Uma escola? Sim, pode ser, já que estamos aprendendo desde que abrimos os olhos pela primeira vez, mas tenho preferido imaginar que é um teatro, onde cada um desempenha seu papel, escolhido, talvez, pelo diretor, mas aceito por todos.
Outro dia assistia uma peça da classe do meu filho, na escola. Era a história de uma trupe que viajava pela Europa medieval tomada pela peste e pela fome. Ver os meninos que conheço, transformados ali em atores, atuando e cantando, ali bem pertinho de mim, me fez compreender o teatro. A brincadeira que ele é. Um faz de conta que a plateia vive junto.
Bom, então... se é assim também nossas vidas, que tal escolhermos outra peça? Essa do opressor e oprimido, da violência, dos mau tratos, da desigualdade, da miséria, da guerra, da escravatura já deu!
Por favor! Quero mudar. Quero viver outros papéis, outras histórias com a minha trupe de humanos!
Já imaginou? Ter essa liberdade de sair dessa confusão em que estamos metidos? Chega de consumo desenfreado e os preços baixos da China, conquistados pelo trabalho incessante do seu povo, chega de machucar nossos companheiros com a violência urbana. Chega de tanta coisa!!! Já que nenhum ser divino parece decidido a colocar ordem na casa, que cada um se torne um diretor consciente e cheio de liberdade na alma para fazer um outro tipo de espetáculo. Para isso, sentar na plateia da vida e ver se é essa mesmo a peça que vale a pena encenar. Subir no palco e ver qual a minha/ sua participação. Optar! Escolher! Dançar em volta da fogueira ou colocar a armadura e destruir. A cada mínimo gesto escolher!