28/10/2014
Ok, aceito a sugestão que leio no livro e volto minha atenção para a minha mente e de repente ela fica calada, por um instante, surpreendida por essa visita inesperada. Continuo espiando e quando percebo fui sequestrada por um pensamento e levada para longe. Volto e ela se cala novamente. Aos poucos começo a perceber quando nascem os pensamentos e quando morrem. Principalmente percebo como sou levada por eles, como me aceleram, como me preocupam, como me apavoram... Que poder!
Na verdade, eles não são nada! Não tem matéria no pensamento, não dá para pegar, não estão em lugar algum. Eu que dou existência para eles porque os obedeço, me articulo a partir deles, brigo, me alegro, ajo por sua causa.
Diz a Dona Ciência que a mente tem tendência a criar hábitos mentais. É verdade, acho que é essa a raiz da obsessão. Vira e mexe encontro alguém muito apaixonado por alguém impossível e observo esse hábito mental de pensar repetidamente na pessoa em questão, alimentando assim a paixão.
Aliás, como as Senhoras Emoções mandam e desmandam em todo mundo. Está na hora de uma rebelião!
Quando vejo a geração dos meus filhos sofrendo pelas mesmas coisas que a minha geração sofreu penso em desperdício, em como não estamos evoluindo.
Que tal não valorizarmos mais as emoções que fazem sofrer? Elas também não existem, são abstratas. Como disse alguém: “as emoções são o encontro do pensamento com o corpo”
Precisamos então para que elas existam de pensamento e corpo. O pensamento me pensa ou sou eu quem pensa?
Quando observo o pensamento que carrega emoção, ali dentro da minha mente, vejo que ele cria todo um raciocínio e depois se esvai quando me distraio com outro pensamento, para depois voltar me recontando sua história e depois novamente se esvai... fico presa neste redemoinho, aumentando a carga da emoção.
O corpo reage, o choro vem, o estômago aperta, a adrenalina corre solta... e esses movimentos reforçam os pensamentos repetitivos. O desconforto é grande e leva o nome de sofrimento.
Tudo sendo criado na mente e no corpo. O criador? O dono da mente e do corpo, que não sabe que é o dono. Autônoma, a maneira de agir da mente, assim como é autônoma a respiração, e várias outras atividades do corpo, embora elas sejam também passíveis de diálogo, como quando acelero de propósito a respiração, ou como algo que melhora ou piora minha digestão.
Que a rebelião seja trocada pelo diálogo. Que eu não obedeça tão inconscientemente aos meus pensamentos, que eu não deixe que as emoções façam gato e sapato de mim e de quem atravessar o meu caminho. Está na hora de parar de achar que tenho direito de brigar por ciúmes, que posso xingar porque o outro me fez algo. Isso é budismo. Já a maioria das linhas da psicologia diriam que quem me guia, em grande medida, é o inconsciente e que é preciso conhecê-lo para que ele não reine absoluto. Para isso um caminho de investigação do passado e do presente.
Para o budismo o caminho é transformar a mente meditando sobre o sofrimento, impermanência, o nascimento humano precioso e o carma, entre muitas outras práticas.
Para mim a novidade é entender que Buda sentou embaixo da árvore para conhecer sua mente. Que há uma mente a ser conhecida. É novo também perceber que sim, os fatos tem realidade e me machucam, mas que as respostas que posso dar a eles são minhas escolhas. As respostas, segundo o budismo, são sementes. Se quero colher mangas no meu pomar é importante que eu plante mangas!
Muito por conhecer. Todo dia agora, ao deitar, fico à espreita. Muita curiosidade para saber quais pensamentos virão. Aprendo que isso é meditação. Não é preciso parar de pensar, isso é uma atividade normal da mente. Parar de pensar é só apertar um botão de pausa e depois a mente volta igual. A ideia é conhecer e transformar a mente e o espaço de onde surgem os pensamentos. Essa terra vasta, a chamada “verdadeira natureza da mente”, cuja essência, segundo Buda, é sempre clara e limpa, indestrutível e atemporal.
* Aprendo sobre o Budismo nos livros de Chagdud Tulku e no livro “A Alegria de Viver” de Yongey Mingyur Rinpoche
Foto Ligia Vargas