06/07/2006
Autor: Abilio Victor (Nhô Bentico)
Poema que virou um clássico por sua pureza de liguagem Caipira declamado em circus e festas do interior à meio século.
PITOCO ERA UM CACHORRINHO
QUE EU GANHEI DO MEU PADRINHO
NUMA NOITE DE NATÁ
ERA ESPERTO BEM ATIVO
TINHA DOIS ÓIOS BEM VIVO
SARTANDO DE LÁ PRA CÁ
DI MINHA CEDO PITOCO
QUANDO MI LEVANTAVA
PITOCO É QUE MI ACORDAVA
COM LATIDOS SEM PARÁ
MI FAZIA TANTA FESTA
LAMBIA INTÉ MINHA TESTA
CHEGAVA INTÁ MI BEJA
E DOMINGO BEM CEDINHO
EU PEGAVA MEU BODOQUINHO
OS PELOTE NO ESBORNÁ
PITOCO CORRIA NA FRENTE
DANDO SARTO DE CONTENTE
ROLANDO NOS CAPINZÁ
ERA DOMINGO DE MÊS
DIA DE SANTA INÊS
TINHA FESTA NO ARRAIÁ
MINHA MÃE COM AS CRIANÇADA
TUDO DE ROPA TROCADA
NA CAPELA FOI REZÁ
EU FUGINDO POR UMA ESTRADA
COM PITOCO FUI CAÇA
HOJE DÓI A MINHA CONSCIÊNCIA
DA MINHA DESEBEDIÊNCIA
EM NÃO PODE LHE SARVÁ
PITOCO LATIA,LATIA DE TANTA ALEGRIA
SEM NADA PODE CISMÁ
EU TACAVA UM PELOTE
FAZENDO VIRÁ CAMBOTE
UM POBRE CARÁ-CARÁ
DE REPENTE FIQUEI COM ALMA FRIA
GRITEI PRÁ VIRGE MARIA
QUE PODIA ME SARVÁ
UMA URUTÚ DAS DORADA
NUM GAIO DEPENDURADA
TAVA PRONTA PRA SARTÁ
PITOCO FICO ARREPIADO
FICO COM OS ÓIO VIDRADO
E DEU UM SARTO MORTÁ
SE CUMBATEU COM A SERPENTE
ARREPICOU TODA DE DENTE
MAIS NÃO PODE SE SARVÁ
PITOCO MORREU LATINDO
OS SEUS ÓINHO TÃO LINDO
FOI FECHANDO DEVAGAR
PARECIA INTÉ QUE RIA
DA MINHA PATIFARIA
DE NÃO PODE LHE SARVÁ
E NESSE MUNDO TÃO OCO
ONDE OS AMIGO SÃO POCO
DISPOIS QUE MORREU PITOCO
NUNCA MAIS ACHEI OUTRO IGUÁ