09/09/2005
Tem um cumpadi meu que tinha um bordão na maneira de falar que era assim: ¨O que é que ocê me diz, cumpadi?¨. Pois esse capiau tava bem acocorado numa bêra de calçada, juntamente com outro cumpadi seu, que também tava do mesmo modo. Ou seja, acocorado. Aliás devo dizer que esse jeito de sentar em riba dos calcanhares, acocorado, é bem próprio dos capiaus do meu Brasil. E ali, desse jeito, ficam horas matutando ou proseando, jogando conversa fora. Só que no caso desses dois aí eles não proseavam não. Apenas enrolavam, cada um no seu ritmo, um bom cigarrinho de palha. E tavam ali, naquele ritual caipira picando fumo e coisa e tal, quando de repente escutam um barulho esquisito, cujo som era mais ou menos assim: blom... blom... blom... E, sem saber nem o que era e nem da onde vinha aquele barulho, eis que os dois, de modo sincrinizado, olham para o céu.
Olha só com que aqueles capiaus se depararam: um grande, um bitelo dum elefante passava em riba da cabeça deles, voando, quase arrancando os chapéus de palha. Pensam vocês que os dois se assustaram com aquilo? Que nada! Acompanharam aquele enorme elefante voador, que batia as duas grandes e bitelas asas para desaparecer no horizonte.
Sem dizer uma palavra, apenas um olhar cúmplice de caboclo sabido, e voltaram ao velho cigarrinho de palha que, a estas alturas, já estava enroladinho com o fuminho goiano e pronto para ser levado à boca.
Mas – e tem sempre um mas - eis que um novo barulho, agora mais forte ainda, se ouviu. Blomm... blomm... blomm... Novamente os olhares para o alto e então já não era apenas um elefante voador, mas dois. Dois bitelos com grandes asas, bem rentinho à cabeça deles, dos meus cumpadis acocorados. E esses também sumiram no horizonte.
Os nossos personagens voltaram mais uma vez ao velho ritual do cigarrinho sem dizer nenhuma palavra sobre o ocorrido. Ou seja: os elefantes passaram voando e eles acompanharam o trajeto dos dito cujos, mas apenas se entreolharam e agora se preparavam para acender o gostoso goianinho pra móde pita.
Dito e feito: acenderam os gostosos palheiros e, assim que deram a primeira tragada bem funda no peito, eis que um novo barulho se faz ouvir. Agora era demais! O barulho era dobrado. Quando os dois capiaus alharam de novo para o céu, estavam ali, sobrevoando suas cabeças, nada menos do que quatro elefantes enormes, de asas também enormes, naquele barulho idêntico aos anteriores: blomm... blomm... blomm...E mais uma vez sumiram os dito cujos no horizonte, justamente como os anteriores.
Foi aí então que o meu cumpadi, o tal do conhecido bordão, resolveu lascar a pergunta que já se fazia demorar, diante de tão inusitado caso de tantos elefantes voadores naquela tarde calma:
CUMPADI 1 (bem calmo e arrastando no sotaque de capiau) – Então, cumpadi! O que é que ocê me diz disso aí?
CUMPADI 2 (também calmo) – Eu digo que, pelo que eu acho, o ninho deve ser... logo ali. Pois foram tudo pro mêmo lado, uai.
E voltaram a tragar tranqüilamente o fuminho.