06/04/2006
Não tinha cumadri mais teimosa do que a Mariquinha. Pelo menos era o comentário no arraial da Curva Torta. As teimosias dela corriam mundo, ou estradas.
Imaginem vocês que até o cumpadi Ranchinho conheceu a dita cuja. Aliás, foi ele que me contou o causo que se segue.
Era dia de São João, dia da festa dele no arraial. Foi na hora de estourar os foguetes em homenagem ao santo que isso se deu, pois a cumadri Mariquinha era aquela que teimava em soltar os ditos foguetes de três bombas e de varetas.
Ela escorvou bem o lugar da pólvora, pegou um tição na fogueira, segurou na vareta do tal rojão de três bombas, chegou o tição no lugar que era pra acender e daí, é claro, foi aquele barulho que rojão faz quando acende: chiiiiiiiii...
Acontece que o jeito de soltar foguete é assim: a gente chega o fogo na pólvora e quando acende a gente solta logo. E o dito cujo voa pelos ares para dali alguns segundos explodir. Pom...pom... pom...
Pois bem: aí é que entra a teimosia da Mariquinha. Quando todos esperavam que ela soltasse a vareta, ela não fez isso. Aí o povaréu se apavorou:
TODOS (gritando) – Sorta, Mariquinha. Sorta a vareta. Sorta logo que o rojão vai explodir!
MARIQUINHA – Num sorto coisa nenhuma. A festa é aqui embaixo! Como é que o foguete vai estourar lá em riba??!!
E o foguete... chiiiii....
TODOS (apavorados) – Sorta logo, muié teimosa. Essa coisa vai explodir.
MARIQUINHA – Ah, mas num sorto memo. Quero vê ele arrebentá é aqui embaixo.
Pois bem. Não deu outra: foi aquela explosão nos peitos da Mariquinha teimosa. E, é claro, voou pedaço de Mariquinha pra tudo quanto era lado. Morreu a Mariquinha teimosa. Lá vai de tardinha o enterro rua abaixo, pro rumo do censitário que ficava pra lá do córrego.
Ao passar em cima da ponte, não é que o Malaquias, que era quem pegava na alça esquerda do caixão, tropeça desequilibrando todo mundo e faz com que o caixão com a defunta caia no tal córrego que era de muita correnteza?
Foi aquele Deus nos acuda. Todo mundo caiu na água a fim de resgatar a Mariquinha teimosa pra leva-la até a última morada. E toca procurar rio abaixo. Todo mundo. Menos o cumpadi Malaquias que, para espanto de todos, garrou a subir rio acima.
TODOS – Êh, cumpadi Malaquias. O rio corre é para baixo. Cumé que ocê tá procurando rio acima?
MALAQUIAS (na sua lógica) – Eu sei disso, ué. Mas, sei lá. Como ela era teimosa... é ou não é?