15/12/2005
Neste Brasil de meu Deus, tem Mané a dar com pau. Mané Vito do Forró, Mané Bento, Mané Gonçalo, Mané Garrincha e tantos outros Manés. Mas o Mané que marcou a minha vida de caboclo pra sempre é outro. Um pernambucano da ``mulésta´´. Improvisadô e cantadô de embolada, nos tempos do disco de cera de 78 rotações.
Tinha um verso numa embolada dele que eu gostava demais. Era assim: ``Onde vai, valente? Vou pra linha de frente´´.
Pois é por aí que ele foi. Pra linha de frente. Foi compositor, cantadô. Pra arrematá foi um grande pintor de quadros com motivos do Norte e Nordeste do Brasil. Fez exposição, foi elogiado aqui e lá fora, marcou sua presença gordinha neste mundo e foi embora ``fora do combinado´´.
Mas – sempre tem um mas - não quero aqui só falar de idas e voltas. Quero falar do amor que eu senti por esse caboclo e mostrar um causo, que o próprio me contou, ao lado de dona Lalá, companheira dileta, que me recebia com uma cervejinha gelada, depois de saborear um caju da cestinha que eu lhes oferecia, naqueles momentos de emoção e de glória para mim.
Mané contou assim: era uma plataforma de estaçãozinha do Nordeste, muita gente esperando o trem, e de repente aparece um caboclo puxando por uma corda um caixão de defunto, que parecia pesado. Espanto e indignação de todos, até que um gaiato perguntadô lhe dirige a palavra:
GAIATO – Tem gente dentro desse caixão?
CABOCLO – Tem sim, sinhô. É minha muié que eu vô levá pra sê enterrada na terra dela. Sua úrtima vontade...
GAIATO – Então, o senhor gostava muito dela. É , ou não é?
CABOCLO – É, gostava muito mêmo...
O caboclo dá uma cuspida e mostra uma coisa branca que tava no seu bolso:
CABOCLO – Óia o dente dela que eu arranquei num tapa!