07/07/2020
Que tal um bate-papo sobre o universo feminino? Fui convidada pelo Site da Granja para escrever a Coluna Mulher & Cia, trazer um panorama do que nós, mulheres, vivenciamos ao longo dos anos e na atualidade. Também pretendo abordar aqui outras questões que permeiam o universo feminino como os direitos do idoso, da criança, os filhos especiais, o racismo, a saúde e as questões LGBTQIA+. Minha coluna será um espaço de desabafo às nossas reivindicações históricas, aos nossos anseios e - por que não? - das nossas conquistas também.
Vibrando com a honra de ter um espaço
neste veículo tão tradicional da cidade, acho importante que saibam quem sou e a razão pela qual as causas feministas me mobilizam há longos anos.
Achei pertinente a coluna introdutória ilustrar quem é a pessoa que conversa
com você leitor.
Me chamo Ângela Maria Maluf, tenho 64
anos, sou residente em Cotia desde 1987, moradora da Granja Viana até 2005,
quando vim viver em Caucaia do Alto. Ainda quando vivia na Granja, um incômodo
instalou-se em mim. Queria contribuir com meu entorno e desta forma assumi a
Diretoria Ambiental do condomínio SP2.
Meu anseio em fazer era grande e, como
sempre fui uma apaixonada pela natureza, mobilizei os moradores em 2001 num
plantio de árvores frutíferas silvestres, no qual ao final do projeto, para
minha surpresa, havíamos plantado 8.000 mil mudas no total. Foi nessa época que finalizamos o tratamento de esgoto no condomínio. Neste meio tempo, também começamos no condomínio a destinar a coleta seletiva para a Cooperativa
Coopernova Cotia Recicla, da Marly, na região de Cotia.
Mas minha inquietude em transformar
meu entorno saltava os muros daquele espaço e naquele mesmo ano comecei a
contribuir com a merenda de uma escola municipal de Cotia. Sei que vão me
entender quando digo que, quanto mais se conhece as realidades alheias, mais se
quer efetivar ações para melhorar a vida das pessoas.
E nesse anseio que só se agigantava
dentro de mim, parti para fazer o curso de pedagogia, porque ao meu ver,
naquele momento, não havia modo melhor de impactar mais pessoas do que estando
em uma sala de aula com mais de vinte, trinta alunos.
E assim foi, já professora, em sala de
aula no Colégio Ari Bouzan, depois na Apae de Cotia, pude construir com os
jovens e com os jovens especiais marcas de reflexão, de conversa, de
aprendizado e de registro. Um deles, por sinal, presente até os dias de hoje
nos muros destas duas escolas, em forma de mosaicos.
Posteriormente, imbuída de muita vontade, recebi convite na cidade para contribuir com as ações culturais e fui nomeada
Diretora de Cultura.
Do lado pessoal, havia uma agrura
grande a ser resolvida, eu havia passado por violência doméstica e me
entregar ao trabalho foi ainda mais intenso. De um dia para o outro fiquei sem
teto, sem ter o que comer, pedi socorro ao município e não fui atendida. Na
delegacia me perguntaram o que eu tinha feito para passar por aquilo. Isso
formou um nó na minha garganta. E esse nó de ter pedido socorro à cidade onde moro e não ter sido acolhida, ficou muito forte dentro de
mim.
Na primeira oportunidade, me queixei
ao então candidato a prefeito Carlão Camargo. Ele, percebendo minhas
contribuições em diferentes áreas do município e sabendo do anseio das
munícipes por um basta a essas violências, cria a Secretaria da Mulher e me
nomeia Secretária.
Desde então, aquela ânsia de
colaborar, de construir e de consolidar ações no meu entorno na última década, tem foco específico: desenvolver políticas públicas para as mulheres, a fim de
diminuir esse abismo que nos separa dos espaços já conquistados pelos homens. Naquela
gestão, criamos Centro de Referência da Mulher e o Centro de Acolhimento à Mulher Rural.
Posteriormente, optei em pleitear uma
vaga no legislativo, duas vezes, a fim de ampliar as ações em defesa da mulher e, embora tenha sido a mulher mais votada no município nestas duas vezes, isso não
foi o suficiente para assumir uma cadeira.
Já na gestão Rogério Franco, fui
convidada a contribuir na saúde. Dirigi unidades em Caucaia, no Atalaia e
depois assumi a pasta como adjunta ao lado do Dr. Magno. Essa minha vivência
na saúde e a busca pela humanização dos espaços em que estive me ofereceu
bagagem pra nortear uma luta nesse sentido também.
Mais tarde, a Secretaria da Mulher
foi recriada devido à sua essencialidade e sou convidada novamente a assumir
essa pasta e dar continuidade ao trabalho.
Hoje, todos os movimentos legítimos me
tocam, depois que se identifica com um grupo marginalizado, todos demais
vulneráveis passam a te sensibilizar. Mulheres, negros, pessoas com
deficiência, lgbtqia+, idosos, grupos estes que precisam ter suas vozes ecoadas
a fim de que não seja mais preciso reivindicar diariamente a IGUALDADE que nos
cabe.
Sou Angela Maluf, idosa, vítima de
violência, neta de imigrantes árabes e alemães, gay, mãe de três filhos e
sonhadora lutando por um mundo melhor.