31/08/2018
A aproximação de datas comemorativas como o dia dos pais, das mães,
das crianças, entre outras, sempre nos faz pensar um pouco no personagem
da vez. Sendo os pais os eleitos da semana, vai uma pequena reflexão
sobre eles, presentes ou ausentes, mas que sempre nos importam tanto.
Como
não sou pai, escrevo como filha. Sento-me num banquinho, abstraio-me da
cena cotidiana e assisto por uns instantes a figura de meu pai. Tento
ver o homem sem o viés da paternidade, minha referência primordial. Já
num primeiro instante, observo que essa pessoa tem muitas outras facetas
que o compõem. Vejo, por exemplo, que ele também é pai de outras
filhas, e na mesma pessoa, cada uma de nós tem o seu. Também foi um
filho diferente para seu pai e para sua mãe, de quem as lições também
não foram as mesmas. Seus irmãos têm com ele relacionamentos diversos e
ao mesmo tempo únicos, intensos e profundos. É marido de minha mãe há
séculos, mas parece muito pouco chamar apenas de marido esse papel que
tem na vida dela. A essas alturas, é até difícil distinguir um do outro,
é preciso um certo esforço.
Reparo que as facetas se sucedem,
multiplicam-se no meu olhar, vejo a riqueza que esse homem carrega
dentro de si e me envaideço. Volto assim o foco para o pai e nele
reconheço a raiz do meu amor. Vejo um homem multifacetado, mas sempre
inteiro, uma grande unidade e unicidade, que é também meu pai, mas não
só. E estou certa de que falo também de outros pais e por outros filhos.
Para ser um pai inteiro, é preciso viver muitos e muitos papéis, amores
e dores, perdas e ganhos, escolhas complexas e decisões difíceis,
muitas das quais os filhos sequer suspeitam. Capacidade de superar,
recomeçar e continuar apostando com mais fé nos outros e na vida,
quesitos fundamentais para se compor um indivíduo, único e absoluto,
capaz de dividir com o filho não só o melhor de si, mas tudo que o
constitui, sem tirar nem por.
Filhos são muito exigentes,
querem ver e sentir que no pai nosso de cada dia, há um homem completo,
singular e plural, com suas vicissitudes, seus sonhos e vacilos,
segredos e revelações, enfim, toda sua humanidade.
Parabéns aos que escolheram viver esse grande personagem!