28/10/2009
Finados, ainda que feriado, é uma data que não se comemora por razões óbvias, mas sempre nos remete aos que se foram e, de certa forma, a nós mesmos, que um dia iremos.
Outro dia recebi um e-mail oferecendo os serviços inusitados de um site que se propõe a deletar, depois que morrermos, todos nossos rastros virtuais. Vida depois da morte (na internet, isso pode existir mesmo!!) costuma ser um assunto de cunho mais religioso, nada tecnológico, mas diante da oferta desse serviço, vale uma reflexão.
Que imagem queremos deixar da nossa passagem? Construímos um ser nesta existência, que somos nós mesmos, com muito esforço e dedicação, protegendo-o ao máximo de todas as adversidades que a vida nos coloca, para que ele cresça forte, sem muitas sacudidas. Por isso resistimos muito em aceitar sua desconstrução, ou seja, a morte.
No entanto, a sabemos inevitável, apesar de indesejável. Levamos conosco, quando partimos, muito dessa construção, nossa obra-prima, única e última. Procuramos deixar também algo de nós, que seja um benefício para os que ficam, ou no mínimo, uma boa lembrança. E só!
No entanto, quando ocorre que também há de ficar coisas que não gostaríamos de compartilhar, ou que alguém fizesse mal uso dessa auto-imagem tão querida, parece fazer sentido a oferta do serviço: como descansar em paz se uma parte de nós continua on line e não podemos mais cuidar dela?
Não seria o caso de, antes de pensar em contratar o tal site, olharmos para essa tela que nos reflete e avaliar que legado virtual estamos deixando para o mundo, em tempo de uma boa lapidação?
O serviço em questão dispõe-se não só a nos enterrar virtualmente, como a deixar mensagens post mortem a quem ainda não deu tempo de dizermos tudo. Bem, das duas, uma: ou damos um jeito de fazer isso em vida, o que seria um grande ato de amor ou de coragem, ou admitimos para sempre a nossa recusa em partir, deixando indeléveis nossos rastros virtuais.