12/04/2017
Anos atrás, a sempre inspirada colunista Jany, do Site da Granja, escreveu um texto no qual observava a quantidade e sofisticação dos itens que fabricantes de automóveis incluíam em seus produtos. Ela se referia mais especificamente ao interior dos veículos e o quanto o conforto dos passageiros vinha sendo valorizado (itens como ar condicionado, bancos reclináveis e ergométricos, computador de bordo, displays para copos e por aí afora). Na ocasião, com muita perspicácia, ela relacionou essa tendência ao tempo em que as pessoas – lamentavelmente - permanecem dentro de seus carros durante o dia. Durante a vida! Nessa triste constatação, não só dela como dos fabricantes, os carros passaram a oferecer um aconchego semelhante ao de uma sala de estar...
E não parou por aí! Atualmente, seguindo exatamente essa tendência, uma grande montadora está desenvolvendo – pasmem! - um protótipo de ‘carro empático’, que reconhece a voz do dono, o tom da voz, seu humor, interage com ele, conta piadas se a coisa não estiver bem, dá conselhos, escolhe a música mais adequada ao estado de espírito, lembra aniversários, entre outros mimos. O carro não é mais alguma coisa, o carro é alguém, um amigo, uma secretária, um terapeuta. Sala de estar, mas também escritório ou consultório, um espaço não só acolhedor como também amável! Antigamente as pessoas namoravam dentro dos carros, hoje o afeto vem de fábrica.
Outra novidade, um novo protótipo inusitado, também foi apresentado ao mercado europeu pela mesma montadora: um berço!! Desta vez, não a casa dentro do carro, mas o carro dentro de casa! O inédito modelo de berço simula os movimentos de um automóvel, a iluminação noturna das ruas e um leve ruído de motor para ajudar o bebê boêmio a pegar no sono, sem o incômodo de ligar o carro e levar a criança para cima e para baixo até que durma.
De fato, o colo nesse momento nem sempre é um sucesso e aquela voltinha no bairro continua sendo um recurso válido em casos extremos. Mas o que mais chama a atenção, sem desprezo à criatividade da montadora, é a automatização das relações humanas e da satisfação das suas demandas. Tenho a sensação de que algo está se perdendo nos contatos entre as pessoas, inclusive as mais queridas. A tecnologia sem dúvida é um artefato fantástico, desde que sirva para nos aproximar uns dos outros e nos reservar mais tempo para isso, para os outros e para nós mesmos. De preferência, em casa!