13/05/2009
Semanas atrás, o fenômeno Susan Boyle circulou pelo mundo afora através da net, sendo acessado por zilhões de internautas, registrando a cada email o espanto e admiração suscitados pela cantora escocesa. O vídeo em questão retratava um programa de calouros de uma rede inglesa de TV, no qual a dita diva tentava sua sorte exibindo seu inquestionável talento, apesar da antítese visual e estética apregoada pela indústria cultural.
O espanto do público ligava-se justamente à aparência da candidata a cantora, sem o charme e a beleza que parecem quesitos fundamentais para o sucesso. A admiração, pela constatação de que o talento nada tem a ver com recursos financeiros, técnicos ou meramente estéticos, mas pode se encontrar onde menos se espera, o que o torna mais surpreendente.
Mas o que surpreende mesmo, neste caso, é a unanimidade, a julgar pelas cifras fabulosas de acesso a esse vídeo. O que está por trás disso, com o que essa quantidade absurda de pessoas se identificam, o que tem o dom de sensibilizar tanta gente, do mundo inteiro, ao mesmo tempo? Antigamente, quando a televisão punha no ar “mais um campeão de audiência”, que já alcançava índices altíssimos para o padrão da época, mal podia imaginar o quanto esse conceito seria extrapolado com o advento da internet. Não há como comparar duas grandezas tão diversas, nem o público alvo a quem dado programa se dirigia, pois hoje na internet o público beira o infinito e o alvo idem.
Sem entrar no mérito da qualidade do programa de calouros em questão ou do dote artístico de Susan Boyle, a verdade é que a moça mexeu com as pessoas. Não algumas, milhões. Por um lado, é possível entender o motivo da surpresa que causou, mas por outro, há algo que assusta: o poder que a rede pode exercer sobre as pessoas, de ligá-las sutilmente em torno de um mesmo fato, estimulando um mesmo tipo de sentimento, sem muito questionamento, fisgando-as apenas pelo mais aparente e imediato. A internet, com seu potencial de alcance, tem também o poder de persuadir e iludir. Endeusar pessoas, pensamentos e idéias, infiltrando-os sorrateira e perversamente na passividade de quem navega. Mais um aspecto para ficarmos muito espertos diante de unanimidades, mais que burras, perigosas.