06/06/2007
Não sou nenhuma especialista para falar de TÉDIO, mas tentarei abordar rapidamente o tema do “TÉDIO”, ou melhor, daquele que “sente o tédio” e daquele “que produz tédio”. Sentir tédio, na especialidade psiquiátrica é chamado de “SPLEEN”. Desde a etapa de bebê até à velhice pode-se vivenciar e sentir o tédio. E é considerado normal. Na adolescência ele é marcante e na velhice um perigo. Agora, “estar” ou “ser” ENTEDIANTE É PATOLÓGICO. Tentarei não sê-lo, neste texto. Mas, o que seria “spleen”?
Muitos seres têm dificuldade em passar pelas “transformações” necessárias da adolescência e de alcançarem a idade adulta mantendo a maturidade emocional. Esses indivíduos vivem de relações superficiais com dificuldade de estabelecer uma intimidade verdadeira e assim revelam um sentimento de vazio e de falta de sentido da vida. Muitos deles são confundidos como depressivos e vivem à custa de medicamentos buscando encontrar neles e em seus receitadores uma resposta para sua solidão. Muitos vão para cirurgia. Como filha de psiquiatra e pesquisador já ouvi muito sobre o exato valor das drogas psicotrópicas que, quando bem indicadas, operam maravilhas.
Valentim Gentil Filho, Diretor do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP fala da importância da psicofarmacoterapia e de outros aspectos de nossa área nas páginas amarelas da Revista Veja (Veja, 2007). Ele sabe que embora muitos colegas sejam seguros estudiosos de farmacologia alguns deles não têm a habilidade do psiquiatra humanista. Jamais deixar o paciente sofrer com os recursos disponíveis, inclusive usando a medicação quando necessária. Esta é a missão de um bom psiquiatra.
Mas voltando ao tédio. Como surgem estes sentimentos de tédio? Existe um “tédio” normal que é vivido e sentido. E existe um ser entediante que não ultrapassou as etapas esperadas para o seu desenvolvimento. O tédio faz parte das emoções humanas desde o início da vida. Sêneca, por exemplo, escreveu o livro sobre o “Tedium Vitae” de uma forma que lembra o que chamamos hoje de tédio contemporâneo. Muitos autores são categóricos em relacionar o tédio ao homem moderno. Svendsen faz uma distinção entre o "tédio situacional", experiência emocional que acompanha o homem ao longo da história e o "tédio existencial", fenômeno relacionado ‘às condições engendradas pela modernidade. Na verdade, acreditam alguns, o tédio tem sido um relato cada vez mais freqüente. Ele aparecia antes do advento da modernidade e do romantismo ligado aos religiosos, afastados dos afazeres mundanos, e aos nobres, em seu ócio nada criativo. Hoje de alguns ricos. Símbolo até então de status, locado nos espaços sociais privilegiados, o tédio, na cultura contemporânea, se espraia por diversos setores, por diferentes estratos sociais.
Martin Dohelmann define quatro tipos: tédio situacional (uma dada situação nos deixa entediados, uma espera prolongada, como por exemplo); tédio da saciedade (quando temos em demasia a mesma coisa e ocorre a banalização); tédio existencial (quando existe uma falta de sentido na vida) e o tédio criativo (somos levados a criar para escapar do tédio).
É evidente que em todas as camadas sociais encontraremos quem sente e quem produz tédio. É penoso ouvir pessoas falando sempre do mesmo tema, repetitivos, tentando convencer com argumentos vazios. Muitos ouvem por necessidade, outros por pena. Bebês cuidados por enfermeiras uniformizadas, com pós-graduação e muitas sem afetividade, são fortes candidatos ao tédio e à delinqüência, bem como as crianças totalmente abandonadas.
Portanto, por pertencer a este mundo e estar nele, tento dar um sentido à minha vida, preenchendo vazios de forma a me engrandecer sem tédio.
"A dor é localizada enquanto que o tédio evoca um mal sem nenhuma localização, sem nenhuma base, sem nada exceto esse nada, inidentificável que os corrói".