21/12/2006
A relação entre pais e filhos é a relação mais concreta que pode existir.
Pai e mãe não têm a função de dar ao filho uma profissão ou uma saída para a vida. Acredito que a obrigação de pai e mãe é dar valores e conceitos que capacitem o filho a se suprir. Se eles criam o filho sem preconceitos e com valores bons e generosos, eles são o alicerce de uma vida saudável.
Tenho a sorte de ter uma família bem divertida. Meu pai é psiquiatra, minha mãe é artista plástica. Brinco sempre com eles que meu cérebro é cheio de cor. Papai e mamãe cantavam para nós músicas criadas por eles e estórias que eles inventavam para nos divertir e educar. Eles tinham uma grande preocupação em nos criar sem preconceitos de cor, tamanho, hábitos e religião. Nunca quiseram me transformar em alguém, mas sempre quiseram que eu fosse eu mesma. E essa é a melhor coisa que eles poderiam ter feito por mim, me dar ferramentas para que eu pudesse descobrir quem eu sou. A maior preocupação deles é: saiba quem você é e se aceite; nós estamos aqui com você, somos a sua retaguarda. Sempre aprendi deles que a gente precisa ter ética, respeito, e nunca julgamentos.
Um filho que não tem essa benção de ter pais bons, também pode achar caminhos para fazer disso um bem. Pode usar uma infelicidade como motivador de mudanças. O filho pode ser uma transformação para os próprios pais. A pessoa que sofre muitas vezes é o agente de mudanças, é ele que vai mudar a família para os próximos que virão, para os irmãos, para os netos... E isso é possível, sim, tenho o exemplo dentro de casa: meu pai foi uma criança abandonada. Ele poderia ser um ladrão, mas escolheu ser o médico que é. Ele poderia culpar a sociedade, ou os que o deixaram, e se destruir, mas ele preferiu agir e mudar o destino. Ele foi o agente de mudança da própria vida e do que veio depois.