TELEFONE E WHATSAPP 9 8266 8541 | Quem Somos | Anuncie Já | Fale Conosco              
sitedagranja
| Newsletter

ASSINE NOSSA
NEWSLETTER

Receba nosso informativo semanal


Aceito os termos do site.


| Anuncie | Notificações

Crônicas de Sonia Marques

Escravos de Jó jogavam caxangá?

05/10/2023



Por Sonia Marques*

Uma delícia poder fazer parte do seleto grupo de colunistas do Site da Granja. A ideia dessa coluna é trazer história e estórias do nosso cotidiano, com os mais variados temas possíveis, que na linguagem jornalística chamamos de Crônicas, meu estilo favorito. 

E como estamos iniciando próximo ao dia das crianças, decidi abrir com uma homenagem às crianças, principalmente às crianças que fomos um dia e que decerto ainda vivem por aí, no nosso interior.

----

O Eduardo – Dudu para os íntimos, meu sobrinho de 7 anos, com a peculiaridade e curiosidade das crianças me abordou logo que chegou em casa:

- “Tia, sabe o Dudu”?

E eu com toda minha superioridade de adulta fui logo respondendo:

- “Claro que sei, tô falando com ele, meu sobrinho preferido”. 

- “Não tia, tô falando do Dudu da revistinha, aquele da turma da Mônica!

(quando eu era criança isso era Gibi, e a turma se resumia apenas a Mônica, Cascão, Cebolinha, Bidu e mais alguns, Dudu não tinha não).

Bem, personagens localizados, Dudu (o meu e não o do Mauricio de Souza), estava intrigado para entender o que ou quem eram os “escravos de Jó” e foi logo lembrando e concordando com o questionamento de seu xará:

- “Oras, por que escravos e não funcionários, amigos, parceiros de Jó?”, indagou. “Escravo não é correto”, emendou.

Nisso nós dois concordamos. Mas o que ele queria mesmo saber era o significado da cantiga de roda “Escravos de Jó”, que o Dudu do Gibi cantava,  e que também embalou a minha infância e com certeza a sua. “Mas esse moleque tinha que perguntar isso logo cedo?”, pensei. Confesso que passei a vida toda meio sem entender a música, mas não tive a mesma curiosidade do Dudu. Mas fui logo pra internet, afinal o Google é nosso maior aliado nessas horas.

Vamos ouvir mais um pedacinho da música?

“Escravos de Jó

Jogavam caxangá

Tira, põe

Deixa ficar

Guerreiros com guerreiros

Fazem zigue-zigue-zá

Guerreiros com guerreiros

Fazem zigue-zigue-zá”

Em algumas versões ainda tem o Zé Pereira ou o Zebelê e a letra fica assim:

“Tira, põe

Deixa o Zé Pereira ficar”

 

Ou

“Tira, põe

Deixa o Zabelê ficar”

 

Em todos os lugares em que pesquisei, com historiadores e outros curiosos tentando descobrir o significado da música, chegamos a seguinte conclusão:

Primeiro ponto:  o que era caxangá?

Segundo o Dicionário Tupi-Guarani-Português, de Francisco da Silveira Bueno, caxangá vem de caá-çangá, que significa “mata extensa”. Já para o Dicionário do Folclore Brasileiro é um adereço usado pelas mulheres alagoanas. A palavra também já foi associada aos saquinhos utilizados no contrabando de sementes para as senzalas e ainda pode ser aqueles gorrinhos usados pelos marinheiros e até um tipo de caranguejo (mais a frente, vai perceber que essa versão se encaixa melhor ao que buscamos)

Para ajudar no entendimento, quem era Jó?

Um personagem bíblico. Um homem muito rico, com muitos bens, muitos criados e 10 filhos. De acordo com o Antigo Testamento, com autorização de Deus ele teria sido testado pelo Diabo. Deus teria apostado (e ganhou) que ele, mesmo perdendo toda sua riqueza,  sua saúde e sua família, se manteria fiel a Deus. E assim o Diabo fez, tirou tudo de Jó, mas ele se manteve firme na sua fé. Daí o termo “paciência de Jó”.

Mas por que os escravos de Jó jogavam caxangá? Ah, vale dizer que não há registros de que Jó tinha escravos.

Já sobre os guerreiros que faziam zigue, zigue, zá, Ana Virginia Balloussier escreveu na Revista Super Interessante que “o mais provável é que a cultura negra tenha se apropriado de sua figura para simbolizar o homem rico da cantiga de roda. Os escravos que faziam o zigue zigue zá seriam os fujões, que corriam em ziguezague para despistar os capitães-do-mato”.

Outros pesquisadores chegaram a conclusão de que a música pode ter passado por uma espécie de “telefone sem fio” em que as palavras foram sendo distorcidas até chegar nesse final.

O Dudu (o meu sobrinho perguntador), já cresceu e nem se preocupa mais com esse tipo de assunto e muito menos lê o seu xará dos quadrinhos.

Hoje eu diria a ele que uma vez que não há registros de que Jó tinha escravos, talvez ele seria um daqueles que não concordavam com a escravidão e ajudava os escravos a fugirem em zigue zague, jogando caxangás, que no caso seriam os saquinhos com sementes que tinham sido levadas para as senzalas e assim distribuíam sementes pela mata.

E você, conseguiu entender o significado dessa cantiga de roda? Qual seria sua explicação?

Em tempo: Ah, e o Zé Pereira e o Zabelê? O que fazemos com eles? Deixamos entrar? Tira ou põe?

 

Crédito da foto: Imagem de rawpixel.com no Freepik

Vídeo da músicaescravo de jó

Para ouvir: on.soundcloud.com/oiyWd

Reconversa · Escravos de Jó jogavam caxangá


Veja mais

(asdfg hjklç) Diploma de Datilografia
Das conversas que a gente vai tendo por aí
O filho da doméstica e as coisas que o dinheiro não paga
A verdadeira história do Lobisomem
Quem é você na menopausa? Um caminhão velho ou um carrão transadíssimo?

 


Sonia Marques

*Sonia Marques, Jornalista, poeta e cronista. Sou apenas mais uma na multidão, com uma história parecida com a de tantas Marias e tantos Joãos. Sou cidadã em construção.

Essa e outras crônicas no blog reconversa.com.br

Fale comigo: contato@reconversa.com.br


Pesquisar




X



































© SITE DA GRANJA. TELEFONE E WHATSAPP 9 8266 8541 INFO@GRANJAVIANA.COM.BR