11/09/2020
O assunto não é agradável, mas a experiência é infinitamente
pior. Por isso, é preciso falar, sim, de suicídio, pensar nele, entender suas
causas e buscar os cuidados possíveis. Especialmente porque atravessamos uma
crise mundial, com a pandemia da Covid-19.
Numa situação de crise, inúmeros fatores de
risco se combinam e as reações emocionais e afetivas tornam-se ampliadas e
distorcidas.
Ainda assim, não se sabe ao certo se as taxas de suicídio
aumentaram por conta da pandemia. Isso porque o número de casos já vinha crescendo
muito nos últimos anos. Este é um tema, portanto, que está sempre pedindo a
nossa atenção, coletivamente.
Comecemos pelo começo, então, pelas causas, pelo que leva uma
pessoa ao suicídio. O primeiro ponto é que não há uma causa única. Uma
depressão, por exemplo, por mais grave que seja, não necessariamente leva uma
pessoa a cometer suicídio. Colaboram para sua ocorrência uma série de fatores, tanto
individuais quanto sociais, familiares e coletivos.
Normalmente observa-se uma combinação do que chamamos os 4Ds:
depressão, desesperança, desamparo, desespero. Impulsividade e agressividade,
esta última muitas vezes voltada para si, também estão frequentemente presentes
no comportamento das pessoas que cometem suicídio.
Segundo a OMS, a cada 40 segundos uma pessoa
morre por suicídio no mundo. 80% são homens. 90% dos casos podem ser evitados.
Olhando para o momento atual, uma série de fatores de risco, como as incertezas, a falta de perspectivas, o isolamento afetivo, a ausência de uma rede de apoio, podem se associar a questões individuais mais antigas como autodesvalorização, falta de realização pessoal etc. e potencializar a possibilidade de ocorrência do suicídio. A vulnerabilidade social e dificuldades financeiras acentuam o risco. O uso de álcool e drogas idem.
É importante entender que todos nós podemos ter um pensamento de morte ou de
querer morrer em algum momento da vida. Esta é uma expressão que o sofrimento
humano pode ganhar. Mas isso não é ideação suicida. A ideação, que é a primeira
etapa do caminho que leva ao suicídio e que, por isso, deve ser considera com
muita atenção, é a fixação do pensamento de querer se matar, com aumento da sua
frequência e intensidade.
A ideação é a primeira etapa do caminho que
leva ao suicídio e, por isso, deve ser considera com muita atenção.
Quando a ideação começa a acontecer, sem dúvida está mais do
que na hora de buscar ajuda. Isso pode significar ajuda para uma pessoa próxima
ou para si mesma(o).
Uma das principais dificuldades no caminho do suicídio é a
sensação de impotência, de não se poder fazer nada, ou, ao contrário, de achar
que se pode dar um jeito na situação por conta própria. Os preconceitos e a
incompreensão, que vinculam o desejo de morrer à fraqueza de caráter e/ou as
eventuais expressões desse desejo a uma tentativa de manipulação ou chantagem,
são outros grandes dificultadores.
Mas essas são mensagens importantes a serem consideradas. São
os sinalizadores fundamentais que não podem ser desprezados.
É possível prevenir?
Sim, é possível. Nem todos os casos podem ser evitados, mas a
grande maioria sim. Infelizmente, não é tão simples ver e entender os sinais.
Às vezes, eles só fazem sentido depois. No entanto, quando levados em
consideração, podem significar a evitação de um grande sofrimento.
Por tudo isso, é fundamental que não se tenha medo de falar
do suicídio. Se você percebe expressões de sofrimento que incluem desesperança,
por exemplo – “não tenho jeito mesmo”, “sou um fardo”, “não tem sentido viver
assim” etc. – aborde francamente a questão com a pessoa, pergunte como ela se
sente em relação a isso, se pensa na morte ou em se matar. Se você observa
esses pensamentos em você, também fale sobre isso, busque ajuda na sua rede
social e especialmente ajuda profissional.
2/3 das pessoas que cometem ou tentam cometer
suicídio verbalizam ou dão sinais claros. Outros sinais não intencionais e mais
difusos são mudanças de comportamento, como isolamento, alterações do sono e
alimentares, agitação, irritação, uso de álcool e drogas, relatos de tristeza e
angústia diferentes do normal.
Uma vez que o suicídio está associado a sofrimentos experienciados,
se este fator inicial receber atenção e os devidos cuidados, é muito provável
que os rumos de uma história dolorosa possam ser transformados.
Telefones importantes:
CVV – 188 – atendimento também por email, chat e Skype 24
horas por dia
SAMU – 192 – atendimento de emergência para tentativas de
suicídio