30/05/2022
Que o ESG já é um movimento que todo o mundo corporativo vem conversando ou debatendo, não precisamos mais escrever, né?! Meus estudantes, com o decorrer das aulas de sustentabilidade e ESG, acabam comentando que nas grandes empresas que trabalham, os seus superiores estão discutindo, mas ainda não entendem tão profundamente como colocamos na sala de aula, nas palestras e nas consultorias. Acabam associando as questões ambientais somente com o carbono, resíduos e água. Nas questões sociais, com os projetos de doações e a diversidade interna como um censo na empresa. E a governança, dizem que é muito mais para os cargos mais altos que acabam discutindo.
Uma pesquisa global do Dow Jones de 2022, conduzido pela WJS Pro com 300 empresas no mundo, demonstrou que ainda precisamos consolidar algumas terminologias e temas. Um dos achados da pesquisa foi que existem 44 cargos diferentes para o líder de sustentabilidade na empresa, chamado também de Chief Sustainability Officer (CSO). E que precisamos ter mais líderes que tomem conta somente deste tema, pois apenas 7% das empresas possuem esta função, nas empresas maiores, 12%, e 13% nas empresas públicas. Ainda nestas grandes empresas, a responsabilidade pela sustentabilidade fica a cargo de um vice-presidente em 21% delas, 13% em um diretor de sustentabilidade ou 13% em um head de ESG. E 64% dos CSOs reportam diretamente para o Chief Executive Officer (CEO).
Quando idealizei e fundamos a Associação dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável, a Abraps, há mais de 10 anos, esta temática já era discutida. Na época realizamos também uma pesquisa aqui no Brasil para entender as terminologias que existiam para este cargo e função na corporação. Também era bem variado, depois de um tempo estes gestores acabaram assumindo outras funções ou acabaram mesclando áreas como RH, qualidade, compliance, entre outros. Parece que o mercado brasileiro agora está voltando a deixar esta função exclusiva, como mostram esta pesquisa e as várias vagas que faço curadoria voluntária semanalmente no meu linkedin.
Este movimento também está sendo analisado nos conselhos das empresas, como mostrou o relatório da pela Spencer Stuart e pelo Diligent Institute (https://www.diligentinstitute.com/research/sustainability-in-the-spotlight-board-esg-oversight-and-strategy/), apresentando que a maioria dos conselhos (71%) das empresas levam em consideração os objetivos e as metas ESG nas estratégias dos negócios. Porém, como colocado anteriormente neste artigo, as estruturas de governança para gestar o ESG não estão adequadas ou suficientes, sendo que 33% da amostra está considerando repensar suas estruturas e práticas de ESG. Foram 590 conselheiros de grandes empresas do mundo todo, com 78% de empresas de capital aberto e 72% de organizações que tem a sua sede nos EUA.
Este desenvolvimento das competências do ESG é fundamental, por isso comecei contando a história das aulas e palestras. Nesta pesquisa com os conselheiros, 85% estão tomando ações para aumentar estas competências e a fluência do conselho em relação ao ESG. Ou seja, estão estudando, aprendendo, planejando e implementando. Muitos acabam pedindo ajuda de consultores externo com 42% da amostra da pesquisa e 38% estão engajando em educação e aperfeiçoamento dos seus diretores.
Um dos “gatilhos” para esta discussão ou aprofundamento das discussões, segundo a pesquisa, foi a pandemia, pois antes cerca de 20% dos entrevistados raramente ou nunca discutiam o ESG. Agora, pós pandemia, somente 4% não discute o tema. Aqueles que discutem em todas ou quase todas as reuniões de conselho subiu de 15% para 34%.
No Brasil, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) tem realizado muitos cursos para os conselheiros sobre a temática e na sua newsletter sempre tem conteúdos super interessantes sobre ESG. Inclusive conheci esta última pesquisa por meio deles.
A formação e a disseminação do conhecimento aprofundando do tema não deve ficar somente com o CSO e sua equipe, como pudemos entender nas pesquisas. O ESG é mais uma ferramenta de gestão que precisa ser incorporado em todas as áreas e departamentos. Antigamente, tínhamos um especialista do financeiro para cada departamento, agora todo gestor precisa conhecer muito bem as questões financeiras da empresa senão ele ou ela não “cresce” na organização. Depois vieram as questões da gestão da qualidade com os procedimentos e certificações. E todos os departamentos tiveram que aprender, treinar, implementar, controlar e fazer melhorias constantes.
Pois é, bem-vindos à complexidade da gestão organizacional com ESG para os tempos de emergência climática, globalização, tecnologia exponencial, Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), pandemia e talvez a busca de um verdadeiro propósito para as empresas.