25/05/2006
Para quem gosta, tem o hábito, a mania e o transtorno obsessivo compulsivo de escrever, o papel em branco pode ser tudo e até mesmo o nada. E isso soa redundante, até porque se algo é tudo e tudo é literalmente tudo, o nada está incluso. Mas não tem problema, porque o papel em branco abraça inclusive minha redundância.
E aqui na Espanha, em Barcelona, não foi diferente. Mais do que um diário, é meu travesseiro de todo dia, é meu cesto de lixo interno. É onde eu choro minha nostalgia e onde deito com meus sonhos. É onde eu jogo meu lixo inorgânico reciclável, minha angústia vencida e minha tristeza talhada... Uma moeda com a cara e a coroa em uma só face. Foi ele quem me descobriu e eu brinco de descobri-lo a cada caderno, a cada arquivo novo...
Meu dom é minha condena; minha caneta, minha pena. Esse papel que hoje perde sua virgindade me viu crescer e ainda me vê. Recebeu meus 18 anos e me ajudou com as malas na saída da terra do nunca.
É meu pai, minha mãe, família, vida e amigos. A água que lava minha mão e a poeira que me faz lavar de novo.
Um brinde à caneta BIC, à minha recém-nascida maioridade e a esse dito cujo ex-papel em branco.