20/08/2008
Sou terapeuta desde 1980. Observando como as coisas acontecem com os pacientes, e mais importante ainda, comigo mesmo, não tenho hoje a menor dúvida de que os caminhos se abrem. Por pior que seja a situação, se soubermos nos colocar frente a ela, as coisas acontecem, a tormenta passa. Minha avó já dizia que "não há mal que sempre dure - nem bem que nunca se acabe..."
O inconsciente, como descrito por Carl G. Jung, psicólogo suíço (1875-1963) é uma verdadeira usina de informações, soluções, possibilidades. Basta prestar um pouco de atenção e dar uma chance a ele, e é certo que algo acontecerá, algo se abrirá como caminho - depois, é claro, resta trilhá-lo. Sempre há o livre arbítrio, a possibilidade de escolher (inclusive errado!). Mas também acredito, seguindo Krishnamurti, que "somos livres quando não há escolha"...
Vamos devagar. O que é o inconsciente? É aquela parte de nós mesmos que, obviamente, não conhecemos. Mas diferentemente de Freud, que via esta instância da experiência como aquilo que vivemos e reprimimos, Jung acreditava (e eu também acredito, ou melhor, sei, parafraseando-o quando perguntaram a ele sobre a existência de deus...) que no inconsciente há possibilidades infinitas, o registro de toda espécie humana, de sua história e também, pasme, de seu futuro... ou seja, é impossível criarmos uma situação para a qual não haja nenhuma possibilidade de desenvolvimento, de melhora, de obtenção da felicidade. Nem mesmo a morte (se você se interessa
por esse aspecto, veja o que diz sobre isto o budismo!).
Outra maneira de colocar a questão, ainda segundo a visão de Jung, é que "o inconsciente é o nome científico de deus" (palavras dele...). Sempre falo isso nas aulas que dou, e as pessoas reagem das mais variadas formas. Há quem, com isso, entre num estado de verdadeiro fascínio pela psicologia, essa ciência que fala tranquilamente no sagrado, e há quem com isso alimente seus preconceitos sobre a não-existência de um mundo espiritual e jogue fora tudo o que poderia vir a partir daí.
Mas o que quero ao abordar esse assunto é dizer que o tal do inconsciente tem maneiras tão hábeis de colocar possibilidades à nossa frente que é realmente surpreendente, mesmo após tantos anos de profissão. Mas então o que é preciso fazer? Ir ao analista, interpretar os sonhos, prestar atenção à própria experiência e deixar rolar? De certa maneira, é isso mesmo. O analista é facultativo (deus do céu, minhas contas no fim do mês...), mas a capacidade que qualquer um tem de buscar em sua experiência e subjetividade uma orientação para o caminho é dada. E quando a buscamos, essa orientação acontece de maneira tão criativa que às vezes chego a pensar que realmente é o nosso canal com um povinho de grande sabedoria, que nos ajuda a partir de algum "outro plano" por aí - venho de uma família de cristãos e ateus, e esta última parte agoniza no túmulo cada vez que penso essas coisas... Pero que las hay, las hay.
Mas vale a pena dar uma chance ao inconsciente. Ah, isso vale. Experimente buscar respostas dentro de si. Você não vai se arrepender. Preste atenção em seus sonhos. Preste atenção em sua própria experiência, sem julgá-la... às vezes, apenas isso basta para que seja possível ouvir uma orientação interior, uma "voz" (que a gente "escuta") que traz caminhos. Motivação, orientação, ação, tudo é dinâmico na psiquê, quando há saúde. Quando não, o movimento interior cessa, e com ele, a felicidade.