12/02/2009
Nada a dizer, a não ser que sem amor nada vale a pena...
Percebo cada vez mais que, se por um lado as obrigações e as chatices da vida nos oferecem um chão contínuo no tempo para irmos, pouco a pouco, construindo as nossas vidas, não há obrigação nem rotina que, em si mesma, traga a atenção amorosa que faz com que os seres vivos, afinal, sobrevivam...
Humberto Maturana, biólogo chileno mundialmente conhecido, trouxe à ciência (à ciência!) a idéia de que, na essência da biologia, da natureza, está o amor. O senso comum dizia que na natureza impera a lei do mais forte. Todos já ouvimos isso, não? Parece incontestável. No entanto, Maturana nos leva, em várias de suas obras, ao caminho para reconhecermos que o pano de fundo que dá sustentabilidade (êta palavra ambígua!) à própria vida é o amor, e não a disputa pelo lugar do mais forte.
Em manadas de antílopes ameaçadas por predadores como por exemplo os grandes felinos, um dos membros da manada fica para trás... se sobreviver, ótimo. Se for pego, ótimo também – para o resto do grupo que pode se salvar. Isto é um comportamento de auto-preservação grupal, em que o indivíduo se sacrifica pela coletividade.
Mas e as imagens que vemos a toda hora de predadores caçando, matando e devorando suas presas? Para Maturana, esse é um fenômeno incidental, periférico, integrante da natureza, mas que não é o que a sustenta. O que sustenta a vida não é a supremacia sobre o mais fraco, mas os elos e os vínculos entre e intra-espécies.
Religião e ciência, aqui, se encontram lindamente...
Então, se cientificamente é o amor que sustenta a vida, o que isso significa?
Significa que as teorias econômicas que acreditam na competição pura e simples como mantenedora da ordem econômica estão erradas...
Significa que a identidade baseada na comparação, no “estar melhor (ou pior) que...” não dá base nenhuma ao autoconhecimento;
Significa que por mais que queiramos negar, nada se compara a uma relação íntegra e amorosa com os nossos semelhantes e com a natureza. É assim que vamos superar os conflitos que teremos que superar — e olha que haja conflito pela nossa proa, nesta altura do campeonato desta humanidade!
E qual é a melhor definição de amor?
Fiz essa pergunta, uma vez, para um monge beneditino muito interessante. Ele integra uma comunidade de “padres do deserto”, uma tradição meditativa cristã interessantíssima, que se aproxima muito do budismo embora use uma linguagem totalmente diferente. Ele me respondeu: “a melhor definição de amor que conheço é: amor é atenção”.
Pense bem: você ama alguma coisa que não desperta a sua atenção? alguma coisa em que você não quer prestar atenção, dar atenção?
Ótima atenção para você!