18/10/2011
Após escolher algumas guloseimas, encostou-se no balcão e com simpatia pôs-se a revirar sua bolsa em busca do dinheirinho para pagar as compras.
Em meio à procura, confessou: “Como estou atrapalhada hoje; estou muito atrapalhada. Acreditam que perdi minha bengala”?? (pausa e contenção para não cair na risada).
Sua fala também era difícil e me pus a pensar que tudo ali deveria estar relacionado.
Timidez? Nenhuma. A doce senhora continuou a conversa, desta vez animada com a loja. Sugeriu mudanças e quem sabe umas mesinhas para as pessoas tomarem um sorvete, bater um papinho... E eu dei corda: - “Um café”?. “Ah, um café seria ótimo”.
Fiquei imaginando uma reunião no início do mês, com a sua turminha, logo após voltarem do banco com a sagrada aposentadoria.
Pois é: a cada dia tenho maior certeza do rico conteúdo antropológico que se abstrai do lado oposto desse balcão.
E a doce senhorinha, também com a fala bem dificultada, contou ainda outras proezas. E até umas fofocas de uma doceira, a qual conhece beeemmm a proprietária (espiã infiltrada?).
E a bengala, pergunto eu?
“Voltei aos lugares que já passei e não a encontrei...espero que esteja em casa”.
Não arrisquei perguntar seu nome, muito menos a sua idade. Ali, na minha frente, estava clara a passagem da vida. Mas com serenidade e alegria.
Ao se despedir, saiu andando e ao que parecia, não sentindo mais muita falta de seu apoio...pretensiosa, penso se a nossa conversa a “amparou”, e já me dou por feliz.
Aqui, nua e crua, a vida como ela é e a certeza de que até o doce, tem o seu lado meio amargo.
Sandra