04/03/2009
Na década de 30, Adoux Huxley escreve um livro que ecoa até os dias de hoje.
"Admirável Mundo Novo" cria um mundo em que os bebês são feitos em série, o prazer é mercantilizado, as drogas são vendidas institucionalmente e a divisão público/privado se torna cada vez mais nebulosa.
Agora, em 2009, surge o papo da portabilidade dos celulares.
Dez anos atrás era absolutamente compreensível viver sem um celular. Woody Allen mostra em "Noivo neurótico, noiva nervosa" um sujeito que vive ligando para todos para avisar onde ele está. O chiste se realiza, e o celular fora de área é quase um martírio. Viver sob o fardo de ter um celular que não tem cobertura de sinal é um sinal de isolamento quase clínico.
Se nessa última década aprendemos a ser absolutamente dependentes de um aparelho, que nos conecta com nossos amigos, fazendo nosso circulo de amizades estar a um botão, nesses últimos meses o debate se intensifica.
A portabilidade não dá apenas a possibilidade de estar antenado com o mundo, mas sim de estar antenado com o mundo sempre com o mesmo número. Você pode escolher, e seu número será sempre o mesmo.
De repente, por praticidade, estamos presos também a um conceito.
Também de repente, o celular deixa de ter apenas a função de localizar outro celular e, também de repente, se torna parte integrante de cada um.
Aí, a portabilidade deixa de ser uma escolha e se torna uma necessidade. Não é que "queremos" o nosso número, pois temos direito, mas sim é que "precisamos" de nosso número, pois temos o dever.
Semana que vem tem mais sobre a portabilidade.