13/07/2010
Por Cintia Trindade
Sou voluntária em um abrigo de idosas aqui na cidade onde moro. Tenho carro com porta-malas grande e ajudo transportando os mais inusitados itens de cá pra lá. Os finais de semana são animados e movimentados por conta das visitas que trazem, além de chocolates e biscoitos, notícias da família e do mundo. Neste final de semana o assunto foi unânime: O “sorocabarraco”!
Para quem ainda não sabe, o caso em questão é bem simples. Traição, mentira e desonestidade. A mulher que descobriu a traição do marido e da “best friend”. Maridos que traem as esposas era normal no tempo daquelas senhoras idosas. Amiga traidora, nem tanto. Essas “periguetis” nunca eram perdoadas. O que tomou de sobressalto minhas queridas senhoras foi a atitude da vítima, que expôs ao mundo sua trágica comédia. Diferentemente do que muitos poderão pensar, minhas velhinhas se mostraram incrivelmente modernas e emancipadas. Todas, sem exceção, disseram que fariam a mesma coisa. Vejam por que. No tempo delas, o marido era o único provedor do lar. As mulheres ficavam em casa, parindo os filhos enquanto seus homens davam aquelas “puladinhas por fora” do casamento. Não restava alternativa para elas além de fingir que não viam. Toleravam o “mequetrefe” e nutriam por eles, silenciosamente, ou a raiva e desprezo, ou a postura de virtuosa superior. A sociedade patriarcal fortalecia a máxima alardeada por séculos: os homens não prestam. Perpetuavam isso criando filhos tão cafajestes quanto os pais, afinal, era da “natureza” do homem. Era culturalmente aceito um filho homem ser safado. Era e ainda é! A “intimidade” das pessoas e das famílias era escondida. A noção de intimidade a ser preservada era o “mal-feito”. Só era escondido as “porcarias privadas” e o que era “bom” nunca foi alvo de tamanho pudor.
Os tempos mudaram e a mulher está em dívida com a sociedade. Deveriam agora mudar o mundo, as relações humanas, a partir dos próprios lares. Ainda se ouve por aí: “meu marido não é santo”, “homens são assim mesmo”. Como se o fato de “não ser santo” desse o direito de ser desonesto ou ladrão. Tolice enorme! Por unanimidade a esposa foi absolvida da terrível acusação de violar a “privacidade” da família. Não cabe mais a hipocrisia, a submissão e a conivência com a desonestidade. Os filhos? Oras, terão o enorme direito de aprender a ser gente de fato. Aprenderão que a mentira tem perna curta. Aprenderão que a desonestidade será desvendada e que relações humanas devem ser respeitadas. Aprenderão que tratar o outro como lixo sempre trará consequências. As máscaras caem. Hoje não é mais necessária a hipocrisia. As relações, sejam quais forem, podem ser honestas. Há mulheres que acham normal namorar com homens casados. Há mulheres casadas que não dão a mínima para os maridos traidores. A desonestidade em si deve ser abolida, esteja ela no político corrupto, no ladrão, na amiga ou sócio traidores e no mentiroso golpista. Enganar pessoas é para covardes.
Parabéns Dona Vivian por lavar a alma das minhas velhinhas e neutralizar mais duas pessoas “não santas”.