06/11/2008
Eu tenho uma amiga, Dona Sílvia. Uma senhora que nunca tinha visto o mar. Já passa dos 38 anos de idade e nunca colocou os pés na areia, nunca deitou de frente para o oceano Atlântico. Resumindo, nunca foi feliz como achou que poderia ser. Emprego bom, estudou em boas escolas, lia muitos livros, mas nada do mar. Tentou voar para ver o mar lá de cima. Foi pra cima para enxergar em baixo. Dona Sílvia é uma coitada, que não sabe de nada da vida. Pelo menos é o que ela diz... Que não sabe nada, pois nunca viu o mar. Não sabe nadar, não sabe amar, não sabe nada. Nunca viu o mar.
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Esses dias um amigo, grande amigo, me reclamou das dores do inexplicável. Disse que não sabia o que fazer, que estava na dúvida do incerto com o impossível… Pensamos, pensamos, pensamos… E a conclusão não é óbvia e nem fácil de assimilar, mas podemos dizer que quem não pula do abismo não pode dizer se sabe voar ou não.
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Eu odeio pegar trânsito, mas tem alguém que detesta mais do que eu: o amor. O amor não pode ver um engarrafamento que já muda a rota, muda o destino, muda o atalho, muda o transporte, muda o meio. Muda tudo. Ele não é do tipo que fica parado esperando a coisa andar, é ele que anda e faz os outros esperarem. Dá a volta por SP inteiro, contorna o Espírito Santo só pra chegar no destino sem precisar ficar parado. Vai pra cada lugar que a gente nunca ouviu falar, vira em rua sem saber, deixa o pisca alerta sempre desligado, toma multa que nem um maluco, mas não pega trânsito. Demora mais, muito mais. Ir até Vitória e voltar, só pra não pegar uma ruazinha de nada, é muito mais longe, mas assim ele é: se ficar no trânsito, dorme. Então, se viu que tem alguma coisa parando, algum acidente, vira na primeira rua. E o destino que espere, pois ele vai demorar pra chegar. Assim é o amor. Demora pra chegar.