07/04/2014
Parceria é a palavra da moda, principalmente entre profissionais liberais que querem unir forças para agregar valor a seu trabalho e conquistar clientes. É a tendência do momento, quando cada vez mais os empregos tradicionais são trocados por iniciativas pessoais, voluntárias ou involuntárias. Em seu livro “A Teia da Vida” o físico Fritjof Capra mostra como essa iniciativa faz parte da evolução da vida.
Diz ele: “A parceria é uma característica essencial das comunidades sustentáveis. Num ecossistema, os intercâmbios cíclicos de energia e de recursos são sustentados por uma cooperação generalizada... Desde a criação das primeiras células nucleadas há mais de dois bilhões de anos, a vida na Terra tem prosseguido por intermédio de arranjos cada vez mais intrincados de cooperação e de coevolução. A parceria — a tendência para formar associações, para estabelecer ligações, para viver dentro de outro organismo e para cooperar — é um dos certificados de qualidade da vida”.
Teoricamente tão preciosa, a parceria pode ser, ao mesmo tempo, um elemento de alavancagem de projetos e ideias bem como um gerador de conflitos com até perda de clientes. O que determina um ou outro resultado? Os cuidados com os quais as parcerias são estabelecidas."
Acertos e desacertos
O primeiro equívoco é procurar parceiros apenas quando seu negócio não vai bem das pernas. As parcerias são visões de longo prazo e não geradores de lucro imediato. Diante da necessidade de colocar logo o produto ou o serviço à venda, muitos “pontos cegos” são negligenciados nessa relação.
Procurar um parceiro “com dinheiro” é outro erro de conceito. Se o que sua ideia precisa é sustentação financeira, a busca é por um “anjo investidor”. Há diversos por aí, inclusive na internet. Parceiro é para trabalhar junto, na mesma proporção.
A formação de parcerias costuma seguir os rituais de um namoro. Primeiro a atração, quando se acha que encontrou o amor da vida, a paixão de não se largar nem um minuto, o namoro e depois, no casamento, quando os pontos fracos aparecem e começa o caminho para o divórcio. A necessidade é tamanha que a parceria e a busca por clientes começam a ser divulgadas ainda na fase da atração. E poucos se preocupam em fazer um contrato pré-nupcial. Não sei se por vergonha, ingenuidade ou despreparo.
Hoje estou em montagem de três parcerias que parecem promissoras. Todas conscientemente em busca de resultados em médio prazo. Na que está mais avançada, estamos há mais de um mês fazendo reuniões semanais de autoconhecimento e estabelecimento de regras, as quais serão devidamente escritas e assinadas por todas.
Conversamos desde os serviços que vamos oferecer, preço e levantamento de todos os tipos de hipóteses, até como vamos nos comportar caso algum cliente não pague o serviço, ou se uma de nós ficar doente e precisar ficar afastada, como será essa cobertura. Os impedimentos da vida pessoal e como cada uma enxerga e lida com o dinheiro também são parte desse processo de conhecimento mútuo.
Estamos fazendo análises SWOT tanto nossas individuais quanto da parceria. Encaramos de frente as nossas fortalezas e fraquezas, os riscos e as oportunidades que cada uma de nós traz ao negócio. Valoramos, inclusive, redes de contatos e o quanto cada uma de nós vai – em horas - trabalhar nos bastidores para que essa parceria dê certo. Dessa maneira, ninguém fica sobrecarregada com as atividades burocráticas enquanto o restante faz a parte técnica. É quase uma terapia em grupo. Com isso, a parceria está demorando um pouco mais para ser colocada no mercado? Sem dúvida!
Mas as vantagens são muitas. Primeira: é cada vez mais certo que vai durar, pois estamos prevendo os possíveis riscos e conflitos, bem como encontrando plano B para eles. Segunda: tudo será acordado por escrito até os detalhes, para não haver esquecimento ou problemas de entendimento. Terceira: com essas reuniões profundas sabemos o que esperar uma da outra nas mais diversas situações.
Debatemos o que é ética e quais os valores de cada uma e, acima de tudo usamos de total transparência, inclusive para expor nossas limitações técnicas e pessoais. Não temos medo de perguntar e abolimos o termo “óbvio” do nosso dicionário. Além de uma parceria duradoura há tudo para que esse exercício - que pode parecer burocracia para muitos - nos traga, além de clientes, a possibilidade de formar uma forte amizade.