11/04/2011
O dia começara há poucas horas na loja de doces, no italianíssimo bairro da Moóca, em São Paulo.
Rotina a todo vapor: reposição de mercadorias, preços, atendimento a clientes, um cafezinho, e a constante expectativa pela próxima pessoa que, atrás das mais variadas guloseimas, encostará naquele balcão, para muitas vezes, ir além, muito além, de uma simples compra ou venda de produtos.
E, para não fugir á regra, eis que entra uma dessas figuras simpáticas: o contato de publicidade do guia e jornal do bairro, para oferecer pela enésima vez – coitado - uma proposta de anúncio para a loja.
Resolvo olhar com mais atenção e carinho para a proposta, ou melhor dizendo, para ele, o representante que, brincando, diz ter um nome muito difícil: “Zé”! E em seguida sorri, e já me encanta. Lembrei que esteve outras vezes por lá.
Em pé, ficamos por alguns poucos minutos, entre as “negociações ” e o melhor da conversa, que foi poder olhar e ouvir o Sr. José. Não qualquer José, mas aquele que estava á minha frente, abrindo e fechando o jornal para mostrar entusiasmado os seus anunciantes. Que figura, pensava!
Simples, pasta de couro (couro?) bem desgastada, e longe, muito longe de fazer uso de qualquer recurso tecnológico, ele me convenceu que conhece muito mais de um outro assunto: a vida.
Porque, quase ao final da nossa conversa, o Sr. “Zé” me confidenciou a sua idade: 94 ANOS !!!
Imediatamente, confesso, comecei a procurar sinais que denunciassem aquela idade, mas eles não existem. Pedi para ele repetir: inacreditáveis 94 ANOS!
Não tive coragem de perguntar há quantos representando o “seu” Jornal. Depois desta, arriscaria uns 70!!!
E pensei: muito além de um balcão, eis aqui uma passarela da vida e das diversas formas de manifestação do gênero humano.
Homens, mulheres, crianças; histórias, vivências, amores, crenças, tudo “embrulhado” ou camuflado entre tantas guloseimas.
Então, quando ele se despediu, me informando, com orgulho, que iria para outro cliente bem mais distante, admirei ainda mais aquela doce criatura.
O que o faz trabalhar até esta idade? Como vive; quem são os seus, se é que os tem ainda ?? Mas a minha inquietação não combina, em nada, com aquele homem que, com orgulho, enche o peito para falar a sua idade!
Na sua simplicidade e bom humor, debochou da popularidade do seu nome, mal sabendo o quanto singular e especial é esse “Zé”, que, hoje, aos 94 anos, parece viver sob o embalo do samba do seu quase homônimo, “Zeca” Pagodinho, “deixando que a vida o leve”.
Com certeza! A julgar pelo sorriso encantador com que se despediu de nós, caminhando lépido e faceiro para a sua próxima missão.
Olhei para a jovem de pouco mais de 20 anos, que, mesmo parecendo distraída com seus afazeres, não ficou indiferente aquela lição de vida, e desabafei: “Meu Deus, 94 anos”!
Tentei saber o que o Sr. Zé vende melhor, e descobri que não são os seus anúncios e sim a própria vida. E sem cobrar nada por isso! .
“Seu Zé”, a verdade deste 1º. de abril!
Para ele, nosso balcão e a nossa admiração!
Que volte sempre!!
Sandra