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Mata Atlântica derrubada em Osasco Por Risomar FasanaroDe todas as notícias tristes que tive nesta cidade, e não foram poucas, esta foi a pior de todas

19/08/2010



Por Risomar Fasanaro


De todas as notícias tristes que tive nesta cidade, e não foram poucas, esta foi a pior de todas. 3.400 árvores nativas da mata atlântica plantadas em dois hectares da zona norte da cidade foram derrubadas.

Segundo o secretário do Meio- Ambiente, Carlos Marx, “o pior de tudo o que vimos foi a destruição do morro de topo. (...) quando vier a chuva vai tudo abaixo. É uma ação criminosa e sem sentido. Ele coloca em risco a própria empresa”.

Não sei o que é pior, se é a destruição do topo do morro ou a dizimação das árvores.

É surpreendente que em uma época em que satélites detectam qualquer incêndio, qualquer desmatamento seja em que ponto for do planeta, se consiga destruir 3.400 árvores. Claro que essa operação criminosa não se realizou em apenas algumas horas, em apenas alguns dias.

O comunicado que recebi do secretário diz que a “fiscalização da Secretaria do Meio Ambiente de Osasco (SEMA), com apoio da Guarda Civil municipal, descobriram na manhã de segunda-feira, 9 de agosto, o corte ilegal de árvores e o serviço irregular de terraplenagem em uma área remanescente de Mata Atlântica, na Avenida Dr. Mauro Lindemberg Monteiro,100, no Parque Industrial Anhanguera, zona norte de Osasco”.

Penso com meus botões: que heroísmo desses fiscais, dessa guarda municipal !!!...Só souberam do desmatamento depois que foram avisados por terceiros, só após o serviço de terraplanagem, quando o crime fora consumado. Essa descoberta me soa mais cômica do que a da descoberta do Brasil “por acaso”...

O que se tenta passar por heroísmo, me soa como completo e absoluto descaso. Esse flagrante demonstra que não havia fiscalização diária naquela reserva. Demonstra que o papel da Guarda Municipal que é o de zelar pelos bens públicos da cidade não vem sendo cumprido. Demonstra que o serviço de fiscalização do satélite ainda não chegou a Osasco...

A área, como o próprio secretário reconhece, é (era...) um terreno de preservação permanente.

A empresa de Comércio e Indústria Santo Elias, como consta do release da prefeitura que recebi, e cujo nome alguns jornais locais omitem, por razões óbvias, não possuía anuência da SEMA, nem licenciamento ambiental da CETESB e nem do DUS (Depto. De Uso do Solo) de Osasco.

Mas com certeza o empresário responsável por aquele crime deve conhecer a história dos descasos que aconteciam nos anos 70, 80 e 90 com a natureza nesta cidade. Devem saber que dificilmente as punições saem do papel. A não ser que agora isso venha a acontecer, porque antes...

Talvez ele tenha conhecimento de que nos anos 70 as paineiras que ladeavam o rio Tietê e que compunham provavelmente a mais bela paisagem de Osasco desapareceram, o que talvez não saiba, é que elas foram dinamitadas pelo governo do estado na época.

O que ele também deve desconhecer é que duas mulheres, uma delas era eu, ligaram para todos os jornais, tanto de Osasco como de SP, para vários canais de televisão e nenhum, NENHUM noticiou o fato. Nenhum deu ouvidos nem antes aos nossos apelos, nem aos nossos protestos, depois do fato consumado. E a prefeitura da época também nada fez.

Talvez ele não saiba que no início dos anos 90 essas mesmas duas mulheres quase foram presas por operários de uma construtora daqui da cidade por tentar salvar entre várias espécies de árvores nobres, um pau-brasil, que fora plantado nos anos 60 em uma casa que pertencera à historiadora e professora Helena Pignatari, e que corre pela cidade, mas não tenho como comprovar isso, que a casa foi levada à leilão e adquirida por um ou vário políticos da cidade, por um preço irrisório. E que posteriormente houve uma mudança na lei de zoneamento que proibia a construção de prédios no bairro, e o prédio foi construído. Verdade? Boato? O prédio está lá e tem 22 andares.

Cada vez que passo em frente, me pergunto com quantos canalhas se constrói um prédio desses sobre as almas de tantas árvores?

Como se pode ver, é longa e triste história de destruição da natureza aqui.

Na época a prefeitura nos comunicou que o proprietários da imobiliária, destruidor daquelas árvores, pagaria uma multa, replantaria centenas de árvores. Nunca soube se aquela multa foi paga nem se as árvores foram replantadas. E o dono da imobiliária continua aí espalhando seu riso cínico pela cidade. E garanto que dorme o sono dos justos, coisa que não faço desde que recebi o comunicado do Secretário do Meio- Ambiente sobre a tragédia que agora se abate sobre a mata atlântica.

E é bom lembrar, nos anos 90 eu ia com um grupo de amigos, 2, 3 vezes àquela mata. Ficávamos algumas horas junto à nascente que lá existe. Em uma ocasião levamos alguns índios guarani do Morro do Jaraguá até lá, e em outra o líder indigenista Aílton Krenak, que nos falou sobre a importância daquela reserva.

Havia até o projeto de uma arquiteta para torná-la uma área de visitação pública monitorada. O projeto foi apresentado pelo secretário de Cultura da época ao atual secretário do Meio ambiente, mas por razões que desconheço nunca se concretizou.

É pena, porque provavelmente se houvesse a presença constante de pessoas ali, essa tragédia não teria acontecido.

Tudo isso faz parte de um passado, o importante agora é saber o que se fará para reflorestar aquela área. Devemos isso às futuras gerações.

Risomar Fasanaro
Pernambucana, veio para Osasco com 11 anos.
Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de "Eu: primeira pessoa, singular", obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.


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