05/08/2010
Por Cintia Trindade
Alberto Pisaneshi nasceu em família “de posses”, dona da Empresa de Ônibus São José em Santo André (SP). Formou-se engenheiro químico, fluente em cinco idiomas, trabalhou no Oriente Médio em poços de petróleo. Casou-se com uma espanhola mas não teve filhos. Hoje, aos 69 anos, está de volta a São Paulo e é proprietário de uma empresa de importação e exportação com filial na Argentina.
Em 1974, na madrugada fria do dia 23 de julho, Alberto decidiu ir para Santos munido de duas pistolas 765, um galão com 5 litros de gasolina e uma barra de ferro. O destino era a casa da namorada, Vera Lúcia, de 16 anos. A primeira vítima foi o pai, que saia da garagem rumo à Santa casa de Santos onde trabalhava, atingido por dois tiros na nuca. Em seguida, após invadir a casa, disparou contra uma tia que dormia. Mãe e filha tentaram fugir mas foram alcançadas. A mãe foi morta na porta, Vera chegou até a rua onde foi obrigada a ajoelhar-se e pedir perdão. Foi morta com três tiros na testa. Alberto fugiu sem ter tempo de incendiar a casa. Foi levar a vida em paz. Voltou agora, após 36 anos, para ficar mais perto da mamãe, com 91 anos. Ela está muito feliz com seu retorno. O assassino não quer relembrar a Chacina da Ponta da Praia, afinal passado é passado. Seu advogado fiel garantiu o retorno tranquilo peticionando ao Tribunal do Júri sobre a prescrição dos crimes. Extraiu as certidões com a baixa e houve o arquivamento do processo.
Daniela Perez morreu vitimada por 18 golpes de punhal. Seus algozes foram condenados a, simbólicos, 19 e 18 anos de prisão, dos quais somente 7 foram cumpridos. Hoje levam suas vidinhas em paz.
Em 2000 o jornalista Pimenta Neves resolveu matar sua ex-namorada, Sandra Gomide. Colocou um “38” no bolso e dirigiu-se a um haras em Ibiúna, interior de SP. Encontrou com Sandra e discutiram, quando ela deu-lhe as costas, atirou. Não satisfeito deu o segundo tiro, desta vez na cabeça. Réu confesso e condenado em primeira e segunda instâncias, “Pimentinha” continua livre. Aos 72 anos, o velhote leva uma vida tranquila de aposentado. Mora no mesmo casarão, em bairro nobre de SP e passa seus dias navegando na “net”,falando com suas filhas queridas residentes nos E.U.A. Ele adora passear pelas ruas, especialmente nos finais das tardes de primavera, onde pode saborear o delicioso café servido na padaria do bairro. Ele leva sua vidinha de assassino brasileiro em paz.
Incrivelmente, neste país, mesmo o réu confesso é “presumidamente inocente”. E quando o meliante tem dinheiro para gastar com infindáveis recursos, ele é ainda mais “presumidamente inocente”. Mas qual inocência há para se presumir de num assassino confesso? Os tais recursos, garantidos na Lei, servem para protelar e perpetuar a impunidade!! A defesa de Pimenta Neves continua tentando anular o júri que o condenou. Alguns recursos ainda cabem e se tudo der certo para eles, descontando os sete meses que ficou na cadeia, restará apenas um ano e 11 meses para cumprir. Enquanto isso, João Gomide, pai de Sandra, está doente. Anda com auxilio de um andador e cuida da esposa, que teve sua doença psiquiátrica agravada após a morte da filha. Em entrevista `a revista Veja ( set 2009), ele diz: “Não acredito que vá haver justiça. Desisti. Acho que ele não vai ser preso nunca.” Na verdade, no Brasil, ser ou não condenado faz pouca diferença. Quem lembra do tal Luiz Henrique Semeghini que matou a esposa com sete tiros? Foi condenado a pífios 16 anos e cumpriu seis meses e uma semana da pena. Também deve estar por aí levando a vida na boa.
Não há punição, portanto, não há justiça. Nos vemos estupefatos, incrédulos e chocados diante dos fatos. Mas sempre silenciosos, quase paralisados. Esses assassinos têm muita sorte por serem brasileiros. Podem andar por aí anônimos e impunes, levando a vida em paz.