08/06/2006
São 7 horas da manhã e não adianta, minha mãe não está aqui para abrir, aos poucos, a persiana e depois me trazer a salada de fruta, o suco feito na hora, o pão com queijo fresco derretido e o leite quente com chocolate. São 7 e 15 e não adianta, meu pai não vai gritar do outro lado do corredor meu nome em 7 tons diferentes e igualmente altos. Não adianta, levanto por mim mesmo, abro a persiana de golpe e grito "buenos dias" da janela para minha vizinha que já acordou há tempo para preparar o café de seus dois "niños". Ela de um lado, eu de outro, quase pulando a varanda para dividir o cadeirão com o menorzinho...
Descasco meu kiwi meio sem sucesso deixando uns 25% de fruta na casca. Chupo a casca porque eu também paguei por ela e paguei em Euro. Tomo um gole d´água e me divirto com meu danoninho. Olho para o relógio e o ponteiro já tomava fôlego para recomeçar a subir. Banho gelado mesmo porque o quente demora muito para esquentar. A primeira roupa que acenou para mim, uma madalena para o lanchinho da tarde e rua!
Caminho em direção ao metrô ao som dos passos trabalhadores e finalmente, depois de 18 anos, dou voz ao coro. Deixo no caminho minha madalena da tarde para alguém que tinha fome àquela hora... Trabalho o dia inteiro pensando que ainda é quinta-feira e no final descubro que é sexta, mas não é por isso que eu agradeço a Deus. Descubro mais, descubro que segunda é feriado, e por isso agradeço ao calendário. Terça-feira começa tudo de novo e eu continuo agradecendo.
Às vezes, eu fecho os olhos e viajo direto para o Brasil, direto para minha casa, minha cama, a minha família... Quando levanto a pálpebra tudo está aqui comigo e aí sim adianta... O despertador do celular eu chamo de pai e digo que "já vou". Quando coloco o café na minha cama olho para o lado e meio que espreguiçando, meio que acordando e meio que confuso com os primeiros raios de luz que vão entrando devagarzinho pela persiana digo: "Bom dia, mãe".
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