25/06/2008
Sueli, minha mãe, nunca gostou que eu ficasse andando de bicicleta sozinho quando criança.
Bobo que sempre fui, não ouvi minha mãe. Dizia que ia colocar a cabeça nos livros, mas o que fazia mesmo era colocar as rodas na terra.
Eu, 16 anos e um coração latente de tanta paixão pelo vento. Minha mãe, 41 e um sítio em Bragança Paulista. Mal chegava, pegava a bicicleta e sumia. Pra longe da literatura e pra perto da Liberdade.
Aprendi a escrever ouvindo palavras cantadas pelo vento. Assovios afinados, melodias consonantes. O vento foi meu maior professor, desde a infância até esses dias.
Andava 6, 7 km e me sentia como Gandhi quando libertou a Índia da Inglaterra. Nunca caí, pois quem é amante do desconhecido não se machuca com o que não sabe o que é.
Ia sem olhar o caminho, encontrava boi, vela, cobra, cachorro, bezerro. Gente, as vezes encontrava gente também. Dava oi e ia, com a certeza de que ia chegar em algum lugar.
Nunca chegava onde eu queria, pois não sabia onde era pra ir. Cada lugar que pedalava, era uma descoberta nova… Cachoeira, pedra, pôr do sol. Nunca deixei de saber meu caminho.
Em suma,
Quem viaja sem destino, nunca se perde.