24/08/2006
Era um menino que desde sempre sabia que essa história do repolho e da dona cegonha não passava de pura lorota para encher lingüiça. Tinha a certeza plena de que quem o trouxe ao mundo foi uma bolha de sabão. Filho de pai e mãe, saudável, três refeições diárias. Ciente do útero, do óvulo e da maratona de espermas. Era bom aluno inclusive, mas mesmo assim a bolha de sabão era mais lógica que a própria lógica da razão.
Menino-homem cresceu e virou criança grande. Além da bolha, além da lenda e além do ontem, tem no papel o único cúmplice que procurou. Sem essa de melhor amigo confidente. Modéstia à parte, álibi perfeito.
Foi levado para bem longe do asterisco em que vivemos e não voltou, não voltou porque não quis. Alguns o chamam de poeta, mas poetas mesmo foram aqueles que morreram da poesia. Ele apenas a respira, é verdade que sente e sofre, mas não há um pôr-do-sol que não cure.
É assim, esse santo louco já foi chamado de varrido, agora é assumido. Ter certeza de algo é abdicar de atalhos e estradas, é deixar para trás o que nem sequer passou pela frente. Esse garoto dormiu na beleza do incerto e nunca mais acordou. Hoje vive sonhando, o doido. Disse para mim que quer ser escritor. Eu não disse nada, como papel minha função é apenas concordar.