28/02/2008
São 11 horas da manhã de uma segunda-feira mórbida. Parece até que a natureza tá triste com os granjeiros. O sol não sai, os pássaros mal cantam e o único barulho que ouço é da... motoserra.
Sim, isso mesmo, desde as 8 da manhã as motoserras não param. De quando em quando ouço também um grande estrondo, mais uma árvore caindo. Torço para que caia em cima do piloto da motoserra, mas logo em seguida a motoserra continua. Nada acontece.
Se fosse só isso, seria apenas só triste. Mas hoje completam duas semanas que ouço esse barulho diariamente. Pelos meus dotes auriculares são umas duas ou três. E umas 10 árvores por dia. Se for fazer a conta, já é quase um bosque inteiro. Como diria Adoniram Barbosa, é o pogresso. Nessas palavras, com a licença poética para Adoniram.
Um condomínio novo, talvez mais um templo sei lá de que religião, pode ser até um clube ou um teatro, mas pensando bem... Não ficariam dias a trabalho penoso para construir um clubezinho de nada, quiçá um teatro. Fico com a opção condomínio mesmo.
Mas a maior tristeza é saber que estou quase que como algemado na situação. Já pensei em me pôr em frente a próxima árvore, mas nada... Não ia agüentar mais do que 3 horas, tenho fome muito rápido. Também já pensei em denunciar anonimamente, mas convenhamos, para tanto barulho o pessoal lá dos porões da prefeitura já devem estar sabendo. O triste é admitir que já deve estar tudo autorizado e regularizado. E que sobre a lei não há penas. Escreveu no papel e assinou, tá valendo.
Nesse momento acaba de cair mais uma árvore, é a terceira que ouço hoje. Paro de escrever por alguns minutos, meu coração pára também. Mas a motoserra continua, impiedosa, totalmente vitoriosa. Meu coração volta, a árvore não.
Me pergunto, se tem tanta gente reclamando do crescimento desproporcional, da especulação desordenada, do caos previsto, por que não conseguimos frear essa barbárie? Eles são em 10, 15, 20 no máximo... Nós somos em muito mais... Muito mais! Sim, eles tem muito mais dinheiro, mas nós temos muito mais coração.
O nosso cheque não se assina com a caneta, mas sim com suor e sangue. Essa luta é para muitas mãos, mas estamos perdendo nosso tempo colocando uma contra a outra para rezar e pedir aos céus... Mas a natureza, como se vê, já não está tão contente com esse pessoal, não nos resta alternativa, vai ter que ser freado por nós mesmos. Não tem a quem pedir, não tem a quem correr.
Eles só parecem grandes pois estamos ajoelhados.