10/01/2008
O primeiro curta-metragem apresentado em Crianças invisíveis (all the invisible children), dirigido por Mehdi Charef, mostra de forma simples e direta a rotina das crianças guerrilheiras rebeldes na África. O livro Feras de lugar nenhum de Uzodinma Iweala o faz de forma ainda mais incisiva e psicológica, como se narrado por um garoto, utilizando uma linguagem pura e infantil para retratar as impressões de uma criança obrigada a matar e lutar pela sobrevivência no caos. Infância roubada (Tsotsi) reforça o padrão.
O garoto que rouba um carro e involuntariamente seqüestra um recém nascido comove, e relata uma geração que jamais irá entender a vida adulta por, simplesmente, não chegar com vida a fazer parte dela.
Dissidente da televisão, que por sua vez foi dissidente do impacto causado por Cidade de Deus, Cidade dos homens surpreende por sua honestidade e por sua tentativa de fugir à tentação de imitar seu antecessor. A rotina de violência dos traficantes na favela é apenas utilizada como pano de fundo para uma história de amizade e crescimento (interno e externo) pelos famosos protagonistas: Acerola e Laranjinha. Na medida correta, o diretor Paulo Morelli (de Viva voz), auxiliado por Meirelles, realiza uma obra curiosa e muito bem feita. Um bom começo para o cinema nacional, pelo menos o cinema nacional que chega às locadoras.
A estável carreira de Kevin Costner na década de 80 contrapõe-se com sua instabilidade vivida nos anos 90. No entanto, parece que à frente de uma grande história, um grande ator reaparece, e com estilo. Sumido de bons filmes desde Pacto de justiça (open range), onde ele atuou e dirigiu, Costner ressurge com força interpretando um serial killer. Ao lado de sua dupla personalidade, vivida pelo ótimo William Hurt, Instinto secreto (Mr. Brooks) é um ensaio aterrador sobre o descontrole intelectual e a necessidade de balancear uma vida estável ao lado de uma violência física prazerosa. Mais aterradora ainda é a presença de seu improvável parceiro (desta vez real), Mr. Smith.