07/07/2021
Na pesquisa para o livro dos 25 anos do Âncora temos encontrado cartas que valem republicar. A de agosto de 2006 trouxe "A Roupa Nova do Rei", conto do dinamarquês Hans Christian Andersen, publicado em 1837, e que nos ajuda a enxergar o óbvio.
"- Majestade! A carruagem está esperando à porta, para conduzir Sua Majestade durante o desfile!"
- "Estou quase pronto", respondeu o rei. Mais uma vez, virou-se em frente ao espelho, numa atitude de quem está mesmo apreciando alguma coisa. Os camareiros que iam segurar a cauda, inclinaram-se, como se fossem levantá-la do chão e foram caminhando, com as mãos no ar, sem dar a perceber que não estavam vendo roupa alguma.
O rei caminhou à frente da carruagem, durante o desfile. O povo, nas calçadas e nas janelas, não querendo passar por tolo, exclamava: - "Que linda é a nova roupa do rei! Que belo manto! Que perfeição de tecido!"
Nenhuma roupa do rei obtivera antes tamanho sucesso! Porém, uma criança que estava entre a multidão, em sua imensa inocência, achou aquilo tudo muito estranho e gritou: - "Coitado!!! Ele está completamente nu!! O rei está nu!!" O povo, então, enchendo-se de coragem, começou a gritar: - "Ele está nu! Ele está nu!"
Resolvemos contar essa história porque vimos nela muitas das iniquidades que acontecem em nosso mundo em nome da civilização, da cultura, da economia, do poder. Guerras são travadas, gente morre de fome pelo mundo afora, políticos, juízes, governantes roubam e querem nos fazer crer que o mundo está sendo gerenciado por gente séria e a gente do povo é que não entende nada.
Como precisamos do olhar da criança, da sua inocência e pureza para gritar com sua coerência ética e seu olhar livre, que o rei está nu, os reis estão nus, despidos de racionalidade, de humanidade e justiça! Sejamos nós, cada um de nós, essa criança a gritar e denunciar a nudez daqueles que vêm nos fazendo de bobos.
Com coragem e esperança, inspirados nas crianças, sem medo ou vergonha, é preciso gritar que o rei não só está nu, como seus asseclas estão mentindo.
Isso tudo vai passar. Até lá, se cuidem.
CIDADE ÂNCORA: Carta do Mês de Julho 2021
REGINA MACHADO STEURER
Conselheira e Fundadora