30/07/2008
A metáfora é a tia mais velha de todas as palavras. É ela quem leva o alfabeto todo pra passear, inventa estórias, constrói castelos, remonta sonhos.
Enquanto a hipérbole está esclerosada, não sabe o que fala direito, aumenta tudo, a metáfora está lúcida como o fim de um túnel. Sem a metáfora, não existiria tantos sonhos.
Foi por causa da metáfora que Jesus multiplicou o pão, foi por causa da metáfora que Gandhi deu a outra face, foi por causa da metáfora que o amor venceu a guerra. Sempre a metáfora que faz a Loucura se tornar lúcida e maravilhosa. Sempre por causa da metáfora que a Liberdade une todos os amantes e apaixonados.
É isso que falta hoje em dia. Mais poesia, mais rebeldia, menos literatura, menos verbete, mais paz e menos ciência. Mais paciência.
Se a metáfora fosse colocada nos planos do governo, das prefeituras, dos políticos, o trânsito seria mais confortante, a chuva viria só em março, o carro não quebraria. Se a metáfora fosse levada mais a sério e menos marginalizada, as escolas não teriam esse bla bla bla chato e alienado.
A poesia tem de ser amplificada.
Jesus falava em metáforas, era um amante absoluto da Liberdade, transformava água em vinho, fazia uns milagres pra distrair, pregava o amor. Gandhi dizia que nenhum tecido podia ser bonito se foi feito em cima de fome e dor. John Lennon falava que os campos de morango duravam para sempre.
Todos gênios. É assim, os gênios falam em metáforas. Parece que Deus faz isso de propósito, coloca esses gênios malucos no mundo e faz um surdo compor bem, faz um aleijado fazer obras de arte, faz um homem descalço cruzar a Índia.
Precisamos de mais poesia. Já estamos quase no final do ano e continuamos sem planejar nada de novo, celebrando o natal do ano passado. A páscoa passou, o carnaval passou e a gente espera a próxima festa.
Parei com isso. Parei de esperar a próxima festa:
Hoje eu faço a minha própria festa.