17/11/2005
Prédio antigo o meu, o elevador parou no tempo e continua o seu sobe e desce. É daqueles que demoram mais para abrir do que para chegar. Sem câmeras, privacidade respeita, infelicidade dos porteiros. ‘Social’ e ‘Serviço’ são apenas títulos que não os distinguem. O carpete surrado com alguns rasgos revela um piso azul-marinho, mas o chão de mar só se mostra por inteiro mesmo em dia de mudança. É como se as pessoas abandonassem essa ilha abandonada pelos anos. Quantos vão, outros vêm. São três apartamentos por andar e eu não sei o que esperar das portas da frente. Vinte e quatro apartamentos vivendo em condomínios fechados. Umbigos isolados, sombras com vidas próprias.
Do térreo ao sexto são exatos 21 longos segundos. Segundos meus, dificilmente divididos. Quando faço, nem percebo, abaixo a cabeça e no máximo cumprimento. O calor humano que assistiu o pequeno amontoado de concreto se erguer já não mora mais aqui. Deixou o Rio Iguaçu para nadar em outras águas. Hora ou outra ameaça nos surpreender, uma xícara de açúcar e até mesmo uma correspondência extraviada. Mas por aqui a seca já foi decretada. Estamos fadados à penumbra e aos papéis grudados com fita crepe no elevador. Um aviso aos mortos vivos de que um vivo acaba de morrer. Amém ao falecido e a sua póstuma aparição de 7 dias na sociedade.
Seja bem vindo, mesmo que tarde, ilustre desconhecido.